Baseado em um caso real que inspirou até um filme nacional, o filme mergulha em tensão, manipulação e dilemas morais em um espaço claustrofóbico.
Dirigido por David Yarovesky e estrelado por Bill Skarsgård e Anthony Hopkins, “Confinado” é um thriller que aposta todas as suas fichas em uma proposta claustrofóbica. Toda a história se desenrola em um carro, onde dois homens se enfrentam em um tenso jogo psicológico. A sensação de aprisionamento é transmitida pela limitação física do espaço, e pela carga emocional que toma conta da narrativa. Desde os primeiros minutos, o filme cria uma atmosfera opressiva, capaz de deixar o público inquieto, enquanto observa a escalada de tensão que se constrói entre os personagens.
Batalha de inteligência
A principal força do filme, está na batalha intelectual travada entre os protagonistas. Diferente de suspenses clássicos que apostam em perseguições ou violência explícita, aqui ele foca no embate mental. Cada olhar, cada silêncio e cada linha de diálogo, cria um suspense que vai crescendo lentamente. É curioso como a produção consegue gerar desconforto e ansiedade sem a necessidade de sustos fáceis ou cenas apelativas. Tudo gira em torno da manipulação e das escolhas que cada personagem faz dentro daquela situação.
Drama que nem sempre convence
Além de toda essa tensão, o roteiro tenta inserir um drama familiar que adiciona uma camada emocional à trama. Existe uma tentativa de explorar traumas, mágoas e relações mal resolvidas, especialmente no contexto de um pai e filho que se encontram em lados opostos de uma situação limite. Apesar dessa escolha aprofundar, em certa medida, os dilemas dos personagens, ela nem sempre se desenrola naturalmente. Em alguns momentos, essa carga dramática parece deslocada, como se estivesse forçada na narrativa, tirando o foco do suspense que é o motor principal do filme.
Roteiro que subestima
Infelizmente, um dos maiores problemas está justamente em seu roteiro. Por mais que a proposta inicial seja inteligente e cheia de potencial, o texto sempre subestima o espectador. Diversas cenas são prejudicadas por diálogos expositivos demais, onde os personagens narram exatamente aquilo que estamos vendo acontecer. Isso gera uma sensação de redundância que quebra completamente a imersão. Enquanto assistimos uma ação se desenrolar na tela, ouvimos alguém descrevendo o que acabou de fazer, como se o público não pudesse compreender sozinho.
Perde profundidade no caminho
Outro ponto que decepciona é a maneira como o filme abandona seus temas mais complexos ao longo da trama. No início, há uma intenção de abordar questões como desigualdade social, relações de poder e o impacto psicológico do aprisionamento, tanto físico quanto simbólico. Porém, quando poderia aprofundar essas discussões, o roteiro opta por seguir um caminho mais simples e convencional, transformando o antagonista, vivido por Hopkins, em um vilão genérico, quase caricato. É divertido ver o ator se divertindo no papel de um psicopata excêntrico, mas não há como ignorar que essa escolha faz com que o longa perca a chance de se tornar algo muito mais relevante.
Visual e som elevam a tensão
A direção de fotografia merece destaque por conseguir, nas limitações do espaço, criar uma atmosfera visual que reforça a opressão e o desconforto. O uso de sombras, ângulos fechados e enquadramentos que parecem apertar os personagens na tela é muito bem pensado. A trilha sonora também cumpre um papel essencial, surgindo nos momentos certos, funcionando quase como um elemento psicológico que amplifica a ansiedade e mantém o espectador em estado de alerta constante. É um tipo de som que nunca deixa você relaxar, ajudando a construir a tensão mesmo quando aparentemente nada está acontecendo.
Tensão que causa reflexão
Apesar de seus tropeços, o filme não deixa de provocar reflexões importantes. “Confinado” fala, de forma simbólica, sobre o aprisionamento que muitos vivem fora daquela situação física representada no carro. Seja por questões emocionais, financeiras ou familiares, a sensação de estar preso a algo é uma experiência muito mais comum do que se imagina. O jogo se inverte o tempo inteiro, também serve como uma metáfora potente sobre manipulação, controle e os limites que cada um consegue ultrapassar diante do desespero. O desconforto provocado, vem principalmente do embate moral que nos obriga a pensar até que ponto conseguimos ir quando somos colocados contra a parede.