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Drama melancólico de François Ozon explora a maturidade e o peso da culpa na terceira idade. O longa é marcado por segredos e complexas relações familiares.
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François Ozon está de volta! O aclamado cineasta francês, mais conhecido pelo drama “8 Mulheres” (2002), retorna às telonas no próximo dia 27 com “Quando Chega o Outono“. Ao se pensar na filmografia de Ozon, é quase impossível não lembrar de sua versatilidade. Isso porque o diretor tem fama de transitar por diversos gêneros cinematográficos, que vão desde a nostalgia em “Verão de 85” (2020), até o suspense psicológico de “Swimming Pool: À Beira da Piscina” (2003). Em “Quando Chega o Outono“, essa habilidade fica ainda mais evidente.
Premiado no Festival de San Sebastián, o filme conta a história de Michelle, interpretada com sensibilidade por Hélène Vincent. Ela e Marie-Claude (Josiane Balasko) são amigas de longa data e vizinhas, que vivem em um vilarejo da Borgonha. Após a aposentadoria, elas desfrutam de uma vida tranquila. Porém, a relação entre as duas logo é abalada, por segredos e traumas do passado.
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O desenvolvimento da narrativa
Desde o início de “Quando Chega o Outono“, uma coisa fica clara: Ozon parece estar em sua melhor forma. É que o diretor faz questão de revisitar temas sempre presentes em suas obras, como as complexidades das relações humanas e os segredos familiares, mas, desta vez, sob uma perspectiva inovadora, particularmente voltada para a experiência da terceira idade.
Outro fator interessante é que a narrativa se desenrola de forma muito natural. Isso é possível graças à utilização do cotidiano como uma força de mudança. O filme faz questão de mostrar que, até mesmo no mundano, algo inesperado pode ocorrer e transformar a vida de alguém para sempre. Tanto Michelle quanto Marie-Claude enfrentam dramas individuais em suas respectivas famílias. Porém, um dos pontos mais cativantes do filme é justamente a interação entre as personagens e como, de formas muitas vezes até indiretas, suas dores pessoais acabam interligadas. A amizade entre as personagens é muito bem trabalhada, e isso aprofunda a história já que, além das questões que cada uma carrega, podemos explorar também o elo entre elas.
Ozon tece aqui uma intrincada tapeçaria emocional, que mostra que não há idade limite para a busca por conexão e propósito.
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A fuga do clichê
O foco de François Ozon no longa é a sutileza, é sugerir em vez de mostrar. Assim, a narrativa se constrói em torno de silêncios eloquentes e olhares carregados de significado, permitindo que o espectador mergulhe nas emoções contidas dos personagens.
Hélène Vincent entrega uma performance notável, transmitindo com nuances a vulnerabilidade e a resiliência de Michelle diante de suas adversidades. Josiane Balasko, por sua vez, oferece uma interpretação que equilibra a preocupação maternal com momentos de inesperada leveza.
O filme se distancia de representações superficiais e clichês da terceira idade, buscando retratar a profundidade das experiências de vida em seus estágios mais maduros. Da mesma forma, não se pode esquecer de outro grande destaque do longa: a paleta outonal escolhida pela cinematografia, que além de estar no tema, é aliada à uma trilha sonora sensível. Juntas, elas acentuam a atmosfera melancólica da narrativa, refletindo a transformação interna de sua protagonista.
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O veredicto
“Quando Chega o Outono” é um filme que convida à reflexão sobre a maturidade, a culpa, o isolamento e a busca por redenção, em meio às reviravoltas da vida. Por meio de atuações marcantes e de uma direção contemplativa, François Ozon oferece um olhar inovador sobre as complexidades da condição humana na terceira idade. Assim, a sutileza da narrativa e a profundidade dos personagens fazem com que o filme fique com o espectador muito depois dos créditos finais.
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