Setembro 5 é um bom thriller, com uma visão excelente do ponto de vista jornalístico e um grande filme sobre um forte momento da história.
Poucos eventos na história do esporte e do terrorismo global, tiveram tanto impacto quanto o atentato ocorrido durante os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. O grupo palestino Setembro Negro invadiu a Vila Olímpica, sequestrando e assassinando 11 atletas e treinadores israelenses. No entanto, Setembro 5, não reconta essa tragédia sob a ótica dos reféns ou dos terroristas. Em vez disso, oferece uma narrativa sob a perspectiva do jornalismo que cobriu o evento em tempo real, mergulhando no caos e nos dilemas éticos da imprensa diante de uma crise sem precedentes.
A cobertura ao vivo do atentado de Munique foi um marco na história da televisão. A ABC Sports, que transmitia os Jogos Olímpicos nos Estados Unidos, rapidamente desviou sua programação para reportar a crise. Foi uma das primeiras vezes que o terrorismo moderno usou a mídia como ferramenta para aumentar seu impacto global. O filme recria essa atmosfera frenética, capturando o desespero, a adrenalina e a luta incessante dos jornalistas para informar o mundo sem conhecer o desfecho da tragédia ou quais seriam as consequências de suas transmissões.
Roteiro que prende o público
Desde os primeiros minutos, os acontecimentos prendem a atenção de uma maneira quase hipnótica. A imersão é tão intensa que, por momentos, a sensação é de estar assistindo a um documentário, ou até mesmo de estar presente na sala de redação ao lado dos jornalistas. O realismo do filme é reforçado pela atenção detalhada aos detalhes. Desde os equipamentos da época até a logística caótica de uma redação improvisada. O espaço apertado, as pessoas dividindo mesas lotadas, a ansiedade para conseguir a melhor informação e a luta contra o tempo para colocá-la no ar — cada elemento contribui para aumentar a tensão e dar ao espectador uma visão realista do que acontece nos bastidores de uma grande cobertura jornalística.
A maneira como o filme mostra os jornalistas obcecados em obter o melhor ângulo, a história mais atualizada e as informações mais precisas, antes mesmo de conseguirem processar emocionalmente os acontecimentos, é um retrato fiel da profissão. Embora Setembro 5 não tenha cenas de ação explosivas ou perseguições frenéticas, seu impacto emocional vem da tensão humana, da pressão dos bastidores e das decisões tomadas em tempo real. A escolha de nunca sair do ponto de vista dos jornalistas, sem mostrar diretamente os terroristas ou as vítimas fora do contexto das reportagens, é uma decisão de roteiro brilhante.
O veredicto
O longa também provoca reflexões importantes. Até que ponto a imprensa deve transmitir imagens de uma crise ao vivo? Como a cobertura midiática pode influenciar o desfecho de uma tragédia. Setembro 5 é um filme tenso, bem construído e imersivo, que respeita a inteligência do público e oferece uma perspectiva diferente sobre um dos eventos mais trágicos do século XX. Seu compromisso em manter a narrativa focada no jornalismo torna tudo ainda mais fascinante, mostrando que o impacto, além da ação explícita, vem também do drama humano e das escolhas feitas sob pressão.