Desde sua criação, ‘Alice no País das Maravilhas‘ é explorada de várias formas, desde adaptações cinematográficas até fantasias de Carnaval e canções. É um tesouro da literatura mundial, encantando gerações com sua narrativa envolvente e personagens icônicos. Agora, essa história atemporal recebeu uma nova interpretação nos cinemas, sob o título de ‘Alice no País das Trevas‘. Uma abordagem mais sombria e aterrorizante, rompendo com as expectativas tradicionais e levando os espectadores a uma nova experiência.
Uma Nova Abordagem
De início, precisamos enfatizar que se trata de um filme de baixo orçamento. À primeira vista, parece seguir o padrão de produções de terror sangrento, com versões macabras dos personagens. No entanto, a narrativa prefere explorar principalmente o terror psicológico, criando um ambiente distorcido e sombrio. Ao invés de evidenciar o explícito, a obra constrói uma atmosfera ameaçadora, substituindo as cores vibrantes por tons escuros, que geram um sentimento de desconforto. Os corredores do cenário se contorcem e mudam constantemente, desafiando a sanidade de Alice.
Um Mundo Distorcido
Interpretada por Lizzy Willis, Alice enfrenta uma tragédia devastadora ao perder a mãe em um incêndio. Sem o apoio do pai, ela se muda para morar com a avó (interpretada por Rula Lenska), em um antigo casarão no interior da Inglaterra. Descobre-se que a residência pertenceu a Lewis Caroll, autor de ‘Alice no País das Maravilhas‘, história que inspirou o nome da protagonista. Apesar do pouco contato antecipado com a avó, Alice começa a sentir-se mal após sua mudança. Sua avó tenta ajudá-la com chá caseiro e repouso, enquanto lê o livro que leva seu nome, para ela. No entanto, em vez de encontrar paz, Alice passa a ter pesadelos sinistros, desafiando sua percepção entre realidade e imaginação.
Entre Realidade e Sonho
O enredo se passa em um universo onde o livro e filme “Alice no País das Maravilhas” existem, utilizando e reinterpretando elementos conhecidos. Durante grande parte do filme, a avó narra a história para a neta, alternando entre diálogos diretos e narração em off. Essa técnica mistura os pesadelos de Alice com a realidade e o sonho, tornando a narração o principal elemento condutor da trama. Sequências perturbadoras, deixam em dúvida se são pesadelos ou eventos reais que afligem a protagonista. O roteiro incorpora várias falas do livro, adicionando uma camada de mistério sobre a origem da estranheza no ambiente.
Atmosfera Sombria
O diretor Richard John Taylor, também responsável pelo roteiro, estabelece uma atmosfera densa e obscura desde as primeiras cenas. Tudo é propositalmente desalumiado, contribuindo para a atmosfera opressora não apenas na estética, mas também no conteúdo. A casa se torna praticamente um personagem inerte na história. Com uma aparência decadente, suja e mal cuidada, a residência transmite uma sensação de desconforto e inquietação.
Elementos Surreais
Os elementos surreais conseguem envolver o público, mas não literalmente. Alice não desce pelo buraco do coelho para chegar no País das Maravilhas, mas encontra versões distorcidas de alguns personagens em situações bizarras, carregadas de um peso medonho. É o surreal misturado ao normal, embora não tão estranho e colorido quanto se poderia esperar. Longe de ser engraçado, o filme é perturbador.
Um Jogo de Percepções
Em certos momentos, “Alice no País das Trevas” pode parecer um tanto confuso, com sequências e subtramas que aparentemente não levam a lugar algum ou não contribuem em nada, mas isso é feito deliberadamente. A intenção é transmitir ao espectador parte do estado febril e de pesadelo da protagonista, fazendo-o sentir o medo do que pode acontecer. Em seguida, essa sensação é substituída pela incerteza e insegurança de outra sequência que contradiz a anterior. Alice pode estar perdendo a sanidade, ou talvez todos ali sejam loucos.
Uma Narrativa Inquietante
“Alice no País das Trevas” desvela a cortina de fumaça da história original, revelando que, por trás de sua aparência adocicada, está uma narrativa inquietante. Talvez essa interpretação sombria esteja mais próxima da mensagem que o autor pretendia transmitir por meio de metáforas. Os diálogos permanecem praticamente intactos.
A Luta pela Sanidade
Em termos técnicos, o filme oferece excelentes takes com planos detalhados. Certamente, irá agradar os aficionados por filmes de terror trash. Nesta versão, Alice não é apenas uma observadora inocente, mas uma lutadora que enfrenta sua própria sanidade enquanto navega por um mundo distorcido. Sua jornada se transforma em uma batalha desesperada para manter a lucidez diante de horrores inimagináveis.