Lenda do Slayer estreia projeto solo no Bangers Open Air com show explosivo em São Paulo, celebrando nova fase sem abandonar o peso e o legado com a banda.
No feriado prolongado que embalou o último fim de semana, São Paulo foi palco de uma celebração feroz da música pesada: o Bangers Open Air. Com três dias enérgicos, o evento se destacou pelo peso do line-up. Entre os grandes nomes escalados para o festival, um dos mais aguardados era Kerry King, lendário guitarrista do Slayer, que subiu ao palco com sua nova banda para apresentar o projeto solo From Hell I Rise. Era sua estreia em solo brasileiro com a nova formação, mas o público que o acompanhou por décadas no Slayer sabia exatamente o que esperar: riffs cortantes, presença de palco dominante e uma entrega intensa.
A origem de From Hell I Rise
Em uma coletiva de imprensa, King compartilhou mais detalhes sobre a criação de From Hell I Rise, explicando que a faixa-título nasceu ainda na época do Slayer, mas só ganhou forma definitiva agora. “Eu esqueci o quão ruim essa faixa era. No novo álbum está muito melhor”, revelou. Ao lado de músicos afiadíssimos como Mark Osegueda (Death Angel), Phil Demmel (ex-Machine Head), Kyle Sanders (ex-Hellyeah) e o baterista Paul Bostaph (ex-companheiro de Slayer), Kerry não só estreou músicas inéditas, como também revisitou clássicos que marcaram gerações. Quando os primeiros acordes de Raining Blood ecoaram, o Memorial quase veio abaixo.
Apesar da nova fase, King deixou claro que sua conexão com o Slayer permanece viva. “Parte da razão pela qual estou tocando músicas do Slayer no meu set é porque faz parte do meu passado, parte do nosso legado”, afirmou. Em um dos momentos mais emocionantes do show, a sequência Black Magic e Raining Blood resgatou o peso e a energia de antigamente, provando que, mesmo com o fim oficial da banda em 2019, o espírito do Slayer é eterno.

Nome próprio, decisão forçada
Questionado sobre a escolha de dar seu próprio nome ao novo projeto – algo que inicialmente relutava –, King explicou que a decisão veio mais por pressão externa do que por vaidade. “Eu nunca, nem em um milhão de anos, quis chamar minha banda pelo meu nome. Mas, no fim das contas, funcionou. Só me sinto mal pelos caras da banda quando gritam ‘Kerry, Kerry!’ no palco. Essa é a minha banda, não apenas ‘a banda do Kerry King’.”
O disco marca o início oficial dessa nova fase. Carregado de influências de Black Sabbath, Judas Priest e até toques de punk oitentista, o álbum mostra que Kerry continua fiel às suas raízes, ao mesmo tempo que experimenta e expande seu som. “Two Fists”, por exemplo, foi concebida como uma homenagem ao punk dos anos 80. “Eu queria que essa música fosse escrita como eu achava que um punk da época escreveria”, comentou.

Peso, punk e referências clássicas
Sobre o processo criativo, King contou que, apesar de viver em Nova Iorque, é na Costa Oeste dos EUA que ele ouve mais música e se conecta com novas ideias. Mas, ao fim, são sempre as mesmas referências que o movem: Sabbath, Metallica e Priest. “Sou o mesmo cara. Ainda uso camisetas de rock, e a mesma música me empolga como quando eu tinha 18 anos.”
Mesmo com quatro décadas de estrada, King demonstra energia de sobra e parece mais motivado do que nunca. Para ele, essa nova fase é tanto uma continuidade quanto uma reinvenção. “Quero mostrar às pessoas que eram jovens demais para ver o Slayer como foi legal. Acho que tocamos músicas do Slayer só por isso. Esse sou eu seguindo em frente.”
Futuro promissor e respeito ao passado
O Bangers Open Air, com sua proposta de unir gerações, sons e estéticas, mostrou que o metal está mais vivo do que nunca. E Kerry King, com sua fúria renovada e respeito pelo passado, provou mais uma vez por que é uma das figuras mais icônicas do gênero. Se o Slayer se despediu, King mostra que sua jornada está só começando — e que ainda há muito fogo a ser derramado do inferno.