Com mais de 20 prêmios conquistados desde a sua première no Festival de Veneza, ‘Manas’ estreou nos cinemas brasileiros no dia 15 de maio
Menos de uma semana após a estreia de “Manas” nos cinemas brasileiros (15 de maio), Marianna Brennand conquistou um feito histórico: tornou-se a primeira brasileira a receber o Women In Motion Emerging Talent Award 2025, oferecido pela Kering em parceria com o Festival de Cannes. A cerimônia ocorreu no dia 18 de maio, durante o tradicional jantar oficial do programa na Riviera Francesa, e celebrou talentos femininos que vêm transformando o cinema contemporâneo. O evento também marcou os 10 anos do prêmio.
Na mesma noite, Nicole Kidman foi homenageada pelo conjunto de sua carreira. A presença da atriz, que defende abertamente a representatividade feminina na indústria, deu ainda mais peso à ocasião.
“Ser a primeira brasileira a receber o Women in Motion Emerging Talent Award é uma conquista que carrega força coletiva”, declarou Marianna. “Traz visibilidade não só pra mim, mas pra todas as mulheres incríveis que constroem o cinema ao meu lado — colegas, parceiras, amigas de jornada. Receber esse prêmio ao lado de Nicole Kidman, que tem um compromisso público com a representatividade feminina e se propôs a trabalhar com uma diretora mulher por ano, torna tudo ainda mais simbólico. Esse reconhecimento fortalece meu compromisso com um cinema de impacto, e me enche de fôlego pra seguir criando com coragem, afeto e propósito.”
A cineasta malaia Amanda Nell Eu, vencedora da edição anterior, foi quem indicou Marianna. A escolha evidencia o espírito do prêmio, que celebra o poder das narrativas femininas e promove a troca entre gerações de diretoras.

Lançado no Brasil, Manas já acumula mais de 20 prêmios
Com distribuição da Paris Filmes, “Manas” chegou ao circuito brasileiro no dia 15 de maio e já é considerado um dos lançamentos nacionais mais importantes de 2024. Desde sua estreia mundial no Festival de Veneza, em agosto do ano passado, o longa já levou mais de 20 prêmios. Na Itália, inclusive, ganhou o prestigiado Director’s Award, principal honraria da mostra Giornate Degli Autori. De lá pra cá, saiu premiado de todos os festivais em que foi exibido.
Produção teve apoio de grandes nomes do cinema internacional
O projeto contou com apoio de cineastas renomados desde a fase de roteiro. Walter Salles, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional por “Ainda Estou Aqui“, e os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, donos de duas Palmas de Ouro em Cannes, atuaram como produtores associados.
Walter Salles elogiou sem reservas:
“‘Manas’, de Marianna Brennand, é um primeiro longa-metragem brilhante. A narrativa é ao mesmo tempo sensorial e emocional, os atores são cativantes, e a direção é inspirada, precisa e desprovida de sentimentalismo. Marianna nos oferece a possibilidade de mergulhar em um mundo que ainda não havíamos visto, trazendo luz aos seus demônios internos. Uma grande estreia de uma diretora extremamente talentosa.”
Luc Dardenne também destacou o impacto do filme:
“É um filme que me emocionou profundamente. Sua abordagem da vida de uma jovem e sua família no Norte do Brasil revela a existência de uma comunidade, de uma sociedade onde a longa história de dominação masculina está violentamente inscrita nos corpos das mulheres. Este filme de estreia da diretora Marianna Brennand é, a meu ver, marcado pela intensidade e precisão de sua visão, assim como por sua profunda conexão com seus personagens – qualidades que sinalizam o surgimento de uma cineasta verdadeiramente excepcional.”
Crítica internacional também se rendeu a “Manas“
A imprensa especializada não economizou nos elogios. Vittoria Scarpa, do Cineuropa, definiu o filme como algo que “deixa você atordoado – pela história que conta, pela forma como a conta e pelas atuações penetrantes de seus atores”. Já Matthew Joseph Jenner, da International Cinephile Society, classificou “Manas” como “um filme sincero, afetuoso e genuinamente impactante”.
Um dos pontos mais elogiados é justamente a maneira com que Marianna aborda temas pesados, sem apelar para imagens explícitas ou explorar o corpo feminino. Por isso, especialistas da plataforma Letterboxd já colocam “Manas” entre os 10 filmes brasileiros com chances reais de disputar o Oscar em 2026.
Bastidores e produção internacional
Manas é uma produção da Inquietude, com coprodução da Globo Filmes, Canal Brasil, Pródigo e a portuguesa Fado Filmes. A VideoFilmes, de Walter Salles, também assina a produção associada ao lado de Maria Carlota Bruno, Braulio Mantovani, Marcelo Pedrazzi, Felipe Sholl, Marcelo Grabowsky e Marcelo Máximo. Do lado europeu, colaboram Les Films du Fleuve, dos irmãos Dardenne, Delphine Tomson e Dominique Welinski. O filme conta com patrocínio do Instituto Cultural Vale e da Atiaia Energia, via Lei do Audiovisual, além do apoio do Ibermedia. Ele também foi premiado com o Emerging Filmmaker Award, do Sam Spiegel International Film Lab.
A história por trás de “Manas“
Rodado na Amazônia, o filme apresenta a estreia de Jamilli Correa, acompanhada por Dira Paes, Fátima Macedo, Rômulo Braga e atores locais. O roteiro premiado do Sam Spiegel International Film Lab é assinado por Felipe Sholl, Marcelo Grabowsky, Marianna Brennand, Antonia Pellegrino, Camila Agustini e Carolina Benevides. A equipe técnica traz nomes como o diretor de fotografia Pierre de Kerchove (Paloma, Pico da Neblina), o diretor de arte Marcos Pedroso (Bicho de Sete Cabeças, Motel Destino), a montadora Isabela Monteiro de Castro (O Céu de Suely, Cidade Baixa) e a figurinista Kika Lopes (O Palhaço, Simonal).
A trama gira em torno de Marcielle/Tielle (Jamilli Correa), uma jovem de 13 anos que vive na Ilha do Marajó (PA) com a família. Marcada pela ausência da irmã mais velha, Claudinha, que teria ido embora após “arrumar um homem bom” nas balsas, Tielle amadurece entre ambientes abusivos. Com o tempo, decide confrontar a engrenagem violenta que cerca sua vida e a de outras mulheres à sua volta.

A origem na realidade que virou ficção
A ideia do filme surgiu quando Marianna tomou conhecimento de casos reais de exploração sexual infantil nas balsas do Rio Tajapuru, na Ilha do Marajó. Em 2014, venceu um edital da Ancine para desenvolver o roteiro e mergulhou em uma longa pesquisa, que incluiu várias viagens à região. A princípio, ela planejava fazer um documentário, mas mudou de direção diante de questões éticas.
“No início da pesquisa, me deparei com uma questão ética muito séria. Era inaceitável para mim como documentarista colocar à frente da câmera crianças, adolescentes e mulheres para recontarem situações de abuso pelas quais haviam passado. Seria cometer mais uma violência contra elas. É um tema muito duro e complexo. O desafio era retratar não só uma dor física e emocional, mas também existencial, e isso foi algo que a ficção me permitiu trabalhar. Busquei estabelecer uma espécie de mergulho sensorial que conectasse o espectador à experiência emocional da Marcielle. Eu optei por fincar o filme – em todos os seus aspectos – em um naturalismo que se liga ao documental, abrindo mão de qualquer artifício que pudesse desviar da vivência dela e de seu emocional”, contou a diretora.
Elenco misto com escolha natural da protagonista
A escalação do elenco teve direção de Anna Luiza Paes de Almeida e preparação de René Guerra. O núcleo adulto reúne nomes como Fátima Macedo (CE), Rômulo Braga (MG/DF), Dira Paes (PA), Ingrid Trigueiro (PB), Clébia Souza (PE), Nena Inoue (PR) e Rodrigo Garcia (PE). Já o núcleo infantil foi formado após testes com centenas de crianças das ilhas e da Região Metropolitana de Belém.
Dira Paes interpreta Aretha, uma policial inspirada em figuras reais como o delegado Rodrigo Amorim e a ativista Marie Henriqueta Ferreira Cavalcante, ambos atuantes no combate à exploração sexual infantil na Amazônia. “A personagem da Aretha foi escrita especialmente para a Dira, que foi uma grande parceira desde o início. A Dira sempre foi um farol para mim, uma mulher que me inspira pelo seu ativismo, uma das grandes atrizes brasileiras e uma mulher paraense que conhece muito bem a realidade que abordamos no filme”, disse Marianna.
A protagonista, Jamilli Correa, nunca havia atuado antes, mas surpreendeu desde os testes. “Eu sempre brinco que ela foi atriz em vidas passadas. A gente só destravou algo que já estava dentro dela. A Jamilli é uma força da natureza. Ela tem um silêncio preenchido que imprime na tela muitas nuances e uma inteligência cênica impressionante, qualidades raras”, finalizou a diretora.
Manas não só estreia com força no circuito brasileiro, como já firma Marianna Brennand como um dos nomes mais promissores do cinema nacional, e agora, também internacional.
Sinopse
Marcielle, uma jovem de 13 anos que vive na Ilha do Marajó (PA), começa a entender que o futuro não lhe reserva muitas opções. Encurralada pela resignação da mãe e movida pela idealização da figura da irmã que partiu, ela decide confrontar a engrenagem violenta que rege a sua família e as mulheres à sua volta.
Prêmios conquistados pelo longa-metragem
- Prêmio Director’s Award – Mostra Giornate degli Autori, Festival de Veneza, Itália
- Prêmio do Júri de Melhor Filme Brasileiro – Festival Internacional de Cinema de São Paulo, São Paulo, Brasil
- Prêmio Especial do Júri para a Atriz Jamilli Correa – Festival Internacional do Rio, Rio de Janeiro, Brasil
- Prêmio de Novo Talento Internacional (Prêmio do Júri) – Festival Internacional de Cinema de Mannheim-Heidelberg, Alemanha
- Prêmio Estudantil – Festival Internacional de Cinema de Mannheim-Heidelberg, Alemanha
- Prêmio Especial do Júri – Festival de Huelva, Espanha
- Prêmio do Público – Festival de Huelva, Espanha
- Prêmio do Público – Festival dos 3 Continentes de Nantes, França
- Prêmio François-Chalais de Melhor Roteiro – 37º Encontro Cinematográfico de Cannes
- Prêmio da Imprensa – Mostra de Cinema de Gostoso, Rio Grande do Norte, Brasil
- Prêmio de Melhor Direção – Festival Aruanda, João Pessoa, Brasil
- Menção Honrosa pela Direção de Elenco – Festival Aruanda, João Pessoa, Brasil
- Prêmio Pangea da Universidade Agrária de Havana, Melhor Longa-Metragem de Ficção – Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano, Havana, Cuba
- Prêmio El Megano da Federação de Cineclubes de Cuba, Melhor Longa-Metragem de Ficção – Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano, Havana, Cuba
- Prêmio Casa das Américas, Melhor Longa-Metragem de Ficção – Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano, Havana, Cuba
- Prêmio Centro Memorial Martin Luther King – Melhor Longa-Metragem de Ficção – Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano, Havana, Cuba
- Melhor Filme – Festival de Cinema de São Bernardo, SP, Brasil
- Melhor Roteiro – Festival de Cinema de São Bernardo, SP, Brasil
- Melhor Atriz Coadjuvante – Dira Paes – Festival de Cinema de São Bernardo, SP, Brasil
- Melhor Filme Ibero-Americano, Menção Especial – Festival Internacional de Cinema de Palm Springs, EUA
- Melhor Primeiro Longa-Metragem – Festival Global de Cinema de Santo Domingo, República Dominicana
- Movies That Matter – Grande Prêmio do Juri, Holanda
- Women In Motion Emerging Talent Award – Kering/Cannes