O oitavo capítulo da franquia aposta em ação e nostalgia, mas escorrega ao explicar demais, comprometendo a inteligência do espectador.
Nem todos sabem, mas a saga “Missão: Impossível” não começou com o longa de 1996. Originalmente, era uma série de TV dos anos 60, de enorme sucesso, que durou 7 temporadas e seguiu até os anos 70, até ganhar um “revival” para o cinema nos anos 90. E, para a curiosidade de muitos, o protagonista da versão televisiva, Jim Phelps (interpretado por Peter Graves), tornou-se o antagonista da produção cinematográfica (dessa vez vivido por Jon Voight), o que certamente enfureceu muitos fãs da época.
O astro que tornou tudo ainda maior
Agora, o novo herói, Ethan Hunt, enfrentava a traição do antigo ícone da história, e isso foi suficiente para conquistar uma nova geração de admiradores, especialmente pelo carisma de Tom Cruise, que entregou uma interpretação memorável. Com o passar dos anos, tornava-se difícil imaginar outro ator liderando a franquia. Houve até mesmo, em “Protocolo Fantasma” (2011), a tentativa de apresentar um sucessor, William Brandt (interpretado por Jeremy Renner), mas a obstinação de Cruise em realizar acrobacias perigosas sem dublês, tudo de maneira prática e ousada, tornou-se um marketing poderoso, garantindo assim sua permanência no papel principal. Essa centralidade vem acompanhada de proezas cada vez mais absurdas que o astro se dispõe a executar para criar momentos marcantes: pular de moto de um penhasco, pilotar helicópteros, se pendurar em aviões, saltar entre prédios, entre outros feitos impressionantes. Todas essas cenas contribuíram para manter a franquia relevante e empolgante a cada nova produção, tornando cada vez mais, com perdão do trocadilho, impossível encontrar alguém com a mesma disposição em nome da arte.
Uma aposta nostálgica e ambiciosa
Porém, por mais que Tom pareça dormir em formol e beber da fonte da juventude, e esteja cada vez mais em forma, ainda assim ele está envelhecendo. E com ele, a história. A cada capítulo, a ameaça cresce e o escopo também. Como continuar inovando sem soar repetitivo ou menos atrativo?
“Missão: Impossível – Acerto Final”, que dá continuidade a “Acerto de Contas” (2023), resolve resgatar diversos elementos da franquia desde 1996. Una isso a uma ameaça global incontrolável, e temos um excelente desfecho. Pelo menos, é o que tudo indica, pois aqui tudo se conclui, conectando os títulos anteriores e entregando um encerramento impactante.
Menos ação, mais conexão
É perceptível que, desta vez, a jornada é muito mais introspectiva e pessoal para Hunt, fazendo com que o tom aqui seja mais denso, urgente e contido. Parece contraditório, mas mesmo com o aumento da tensão e a escalada dos riscos, não há tanto espaço para momentos descontraídos ou de leveza. A seriedade se impõe e guia o caminho com mais frieza.
Então, no lugar de diversas passagens frenéticas de ação, espionagem ou aventura preenchendo a trama, esses trechos surgem de maneira pontual. Desta vez, diálogos intensos e uma narrativa angustiante dominam, com os vínculos entre os personagens assumindo o protagonismo. Esse clima apocalíptico e, ao mesmo tempo, intimista, transforma este capítulo em algo bastante singular em relação aos demais.
Um problema chamado fan service
Infelizmente, o oitavo longa da série cai em uma armadilha e escorrega ao tentar contar sua história com grandiosidade. Ao buscar conexão com os filmes anteriores, o retorno de certos personagens e situações com o intuito de provocar nostalgia acaba sendo incômodo, fazendo parecer que tudo se liga de maneira artificial e, por vezes, forçada. Não há problema em revisitar o passado, mas como isso é feito, em certos momentos, soa desnecessária e não adiciona nada relevante ao tema central. Mesmo com essas alusões, elas não são tantas a ponto de comprometer tudo. Ao menos não em termos de roteiro. O uso desses recursos ainda é aceitável na maior parte do tempo, mas o que prejudica é a montagem. Em vez de confiar na percepção do espectador, o filme decide explicar demais, afetando a qualidade final. Ao incluir diversos flashbacks — não somente dos títulos anteriores, mas também de cenas do próprio longa —, a edição se torna excessivamente didática, algo que não acontecia antes, mesmo quando se relembravam elementos já introduzidos. Esses retornos ao passado aparecem em tanta quantidade que, o que deveria ser um recurso de reafirmação ou evocação emocional, acaba virando um artifício infeliz.
Um adeus com pulso forte
Apesar das falhas, “Missão Impossível – Acerto Final” entrega grandes momentos de ação, especialmente em seu clímax, e uma despedida emocionante para Ethan Hunt e seus companheiros. Resta saber se isso será suficiente como encerramento definitivo, ou se novas continuações acabarão esvaziando o valor especial que este capítulo carrega.