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Opinião: A rota independente revitalizou a carreira de Milky Chance

Com a democratização das DAWs e ferramentas que possibilitam a criação de música online, a indústria fonográfica vê um grande aumento no número de artistas independentes. Agora, a tendência parece ter chegado até em quem já tinha contratos assinados com grandes gravadoras. Milky Chance foi uma das primeiras bandas consolidadas a optar pela autonomia de lançar suas próprias músicas. E, cá entre nós, esta parece ter sido a melhor decisão para a sua carreira.
Milky Chance foi uma das primeiras bandas consolidadas a optar pela autonomia de lançar suas próprias músicas. E, cá entre nós, esta parece ter sido a melhor decisão para a sua carreira.

Nunca houve, na história do Milky Chance, tantos lançamentos consecutivos da banda. Desde 2021, quando se declararam oficialmente como músicos independentes, a dupla já lançou 2 álbuns (um novo, chamado ‘Living in a Haze‘ (2023), e em 2022 o relançamento de ‘Sadnecessary‘, em versão acústica), 2 compilados de demos, além de várias faixas inéditas. No ano passado, rolou até documentário em duas partes sobre a trajetória da banda, em seu canal do YouTube.

Nesse meio tempo, os alemães ainda tocaram ao redor do mundo algumas vezes. Inclusive passando recentemente pelo Brasil, como parte do line-up do Festival Coolritiba, e para dois shows solo no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Apesar da agenda cheia, Clemens Rehbein e Philipp Dausch parecem mais soltos, mais leves, e mais conectados com sua identidade artística. Em suma, parece que o Milky Chance sabe, mais do que nunca, quem eles são de fato.

E isso fica evidente tanto na postura da dupla, quanto em seu aesthetic atual; além de, principalmente, na sonoridade de seus lançamentos mais recentes. Faixas como “Living In A Haze” e “Golden” soam diferente de tudo o que os músicos já fizeram antes. Enquanto isso, a recém-lançada “Naked and Alive“, une elementos clássicos do som Milky Chance mas com uma dose adocicada de experimentalismo:

A música possui um som amadurecido, mas que, ao mesmo tempo, leva o ouvinte de volta ao início de tudo. A guitarra eletrônica relembra o sucesso ‘Stolen Dance‘, que Rehbein já se referiu como “uma espécie de melhor amigo“. Enquanto os vocais mais polidos e o instrumental um pouco mais rico, mostram que a banda parece estar no ápice de sua criatividade.

Reinvenção e novos caminhos

É turnê sustentável e blog comentando sobre a iniciativa, vários shows ao vivo disponíveis ao público com um clique, lançamento de pelo menos um projeto musical por ano… Eles não param! E tudo isso parece ser possível, em parte, graças à liberdade criativa proporcionada por sua recém-encontrada autonomia.

É claro que estarem morando na mesma cidade, pela primeira vez em anos, também ajudou bastante no processo. Conforme explicou Philipp em 2021: “Isso nos permitiu a voltar às nossas origens e compôr juntos no estúdio, ao invés de enviarmos música um para o outro. Quando pedimos para o nosso time ouvir o que criamos, recebemos um feedback incrível. Nós sabíamos que precisávamos dar um grande passo.”

O passo em questão foi relançarem sua própria gravadora, a Muggelig Records. Desta vez, eles lançariam seus projetos musicais apenas por ela, abraçando de vez a alcunha de músicos independentes. Porém, vale salientar que no caso do Milky Chance ser independente não significa ser DIY. Afinal, uma equipe de mais de 100 pessoas está por trás da dupla. Alguns ajudam no gerenciamento de sua carreira (Wasted Talent Entertainment), e outros na distribuição das músicas (believe) e no marketing global (Ansatz Music Group).

Sobre a decisão, Clemens comentou na época: “Quando vimos as diferentes oportunidades disponíveis para a gente, ser [artista] independente foi a que fez mais sentido. Não apenas por causa das coisas já faladas sobre manter os direitos autorais, mas porque nós sabíamos que isso nos permitiria fazer as coisas do jeito que nossos fãs queriam. Poderíamos serví-los mais“.

Lançar a própria música, uma tendência mundial?

O que antes era a meta de muitos jovens artistas, agora é algo visto com cautela. A criatividade não depende mais das chaves douradas que as grandes gravadoras costumavam ter o monopólio sobre, que davam acesso aos portões do grande público. Hoje em dia, as redes sociais permitem uma conexão direta entre público e artista, um intermediário não é mais necessário.

Apesar das grandes companhias ainda serem as principais fontes de contato com um público maior e mais diversificado, existem outras soluções disponíveis para expandir audiência e criar vínculo com os fãs. Empresas especializadas apenas em distribuição e marketing, por exemplo, podem ajudar o artista a manter sua independência enquanto populariza seu trabalho.

Não apenas Milky Chance, mas outros artistas consagrados como Aloe Blacc, Frank Ocean, e a estrela em ascensão RAYE optaram pelo caminho da independência (e parecem bem mais felizes com sua escolha atual). Dentre as principais razões para essa aparente tendência na indústria, estão contratos abusivos e restritivos, projetos engavetados pelas gravadoras sem muitas explicações, além do repasse limitado de verba do streaming, segundo análise da Rolling Stone.

Porém, a verdade é que não existe receita de bolo. Enquanto para alguns artistas o apoio de uma grande gravadora o ajudará a entregar seu melhor trabalho e atingir o maior público possível. Outros, como o Milky Chance, estarão na melhor fase de sua carreira de forma independente. E, para o bem da instituição sagrada que é a boa música, nós esperamos que eles continuem assim.

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