Enquanto o pop busca estabilidade, o texano Travis Scott aposta no caos colaborativo para continuar no pódio.
Parece proposital. Exatamente 2025 dias após “UTOPIA”, Travis Scott se torna o segundo rapper mais ouvido da história no Spotify. A marca não vem com um novo álbum solo, mas com “JACKBOYS 2“, sequência do projeto colaborativo da Cactus Jack. São 20 faixas que funcionam menos como coletânea e mais como manifesto: o som de uma gravadora que se entende como cena, e de um artista que sabe quando liderar e quando recuar.
A introdução, “JB2 RADIO”, dá o tom de colagem frenética que atravessa o disco. Em seguida, a faixa-título “Jackboys 2” estabelece a cadência agressiva e o clima denso, como se avisasse que este não será um passeio confortável. “CHAMPAIN & VACAY” e “2000 EXCURSION” mantêm a pressão com batidas abafadas e vocais filtrados, reafirmando a estética industrial e noturna que Scott vem aprofundando desde “Astroworld”.
Colaborações
Mas o disco não pertence apenas a ele. O rapper atua como curador de um ecossistema sonoro que envolve nomes diversos como Playboi Carti, Future, GloRilla, Kodak Black, Tyla, Yeat e SahBabii. Em “WHERE WAS YOU”, Carti e Future assumem o protagonismo em um beat inquieto e minimalista, enquanto GloRilla comanda “SHYNE” com versos afiados e presença dominante. “PBT”, colaboração com Tyla e Vybz Kartel, flerta com o dancehall sem perder o peso da produção, um dos momentos mais interessantes do disco em termos de contraste.
Apesar da longa duração, o álbum se mostra coeso. “VELOUR” oferece respiro com texturas mais suaves, antes que “CONTEST” e “ILMB” devolvam o ouvinte ao terreno seco e tenso da Cactus Jack. “NO COMMENTS” é uma cápsula de paranoia e ostentação, enquanto “BEEP BEEP” traz SahBabii para uma faixa tão experimental quanto viciante.
Há momentos em que o disco ameaça se dispersar, como em “FLORIDA FLOW” e “DA WIZARD”, mas a sequência final recompõe a unidade. “TRIP OUT”, com Yeat, e “110 SOUTH”, com Wallie The Sensei e Luxury Tax, fecham o disco numa mistura de melodia e caos que sintetiza o espírito do projeto: tudo junto, tudo ao mesmo tempo, sob um único teto.
Se em “UTOPIA” Scott parecia buscar um novo centro criativo, aqui ele aceita o papel de catalisador. Não há necessidade de se afirmar a cada verso; seu domínio está na costura. “JACKBOYS 2” não é feito para o algoritmo, é feito para o mundo que Scott construiu e continua expandindo, faixa por faixa, feat por feat, sem pressa de se tornar mais acessível.
O retorno ao Brasil em setembro, como headliner do The Town, vem na esteira de um lançamento que dispensa concessões.