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Uma Noite na Ópera: ‘O Elixir do Amor’ inebriou tanto que o público pediu bis

Dulcamara estava certo, seu elixir funciona mesmo. Tanto funciona que encantou o público na mais recente produção de ‘O Elixir do Amor’, no TMRJ (Theatro Municipal do Rio de Janeiro).

A orquestra dá os últimos ajustes em seus instrumentos, até que as luzes se apagam. Em seguida, aplausos recebem Felipe Prazeres, o maestro responsável por conduzir a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O clima da noite é de leveza, afinal, o palco está prestes a receber uma ópera-bufa (de comédia).

A atmosfera permanece descontraída até o fim da apresentação (também conhecida como récita) de ‘O Elixir do Amor‘. Para quem nunca teve contato com esse tipo de conteúdo teatral, as óperas de vertente cômica são as ideais para começar. Isso porquê elas são divertidas, geralmente curtas, e suas narrativas costumam ir direto ao ponto.

Segundo a descrição do Theatro Municipal, ‘O Elixir do Amor‘: conta a história de Nemorino, um agricultor apaixonado pela proprietária Adina, que não lhe dá atenção. Na tentativa de conquistar Adina, o camponês é enganado por um médico charlatão que lhe oferece um poderoso elixir que cura todos os males físicos e amorosos.

A produção no Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Completando 115 anos de história em 2024, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro já apresentou várias das principais produções do balé, da ópera, e da música clássica. O local é patrimônio imaterial e cultural do Brasil, e já recebeu em suas poltronas presidentes e dignatários do mundo inteiro.

Depois de mais de 20 anos, o teatro trouxe ‘O Elixir do Amor‘ de volta ao seu palco. A produção iniciou a Temporada 2024 da casa com o pé direito, e contou com dois elencos que se intercalaram em um total de seis apresentações.

À convite do teatro, o Capivara Alternativa conferiu a penúltima apresentação da produção, que ocorreu em 26 de abril. Na ocasião, conversamos com Clara Paulino (presidente do TMRJ), Felipe Prazeres (maestro da Orquestra Sinfônica do TMRJ) e Eric Herrero (diretor artístico do local). Além de Guilherme Moreira, Carolina Morel, Sávio Sperandio e Santiago Villalba, protagonistas do espetáculo e que interpretaram os personagens Nemorino, Adina, Dulcamara e Belcore, respectivamente. Tanto as entrevistas, quanto detalhes dos bastidores, estarão disponíveis em breve no nosso Instagram e TikTok.

Uma noite na ópera

O cenário e os figurinos de Desirée Bastos foram alguns dos primeiros detalhes a chamar a atenção na produção. As roupas eram lindas e o capricho em cada detalhe das ornamentações era muito bonito e lúdico de se ver. A adaptação manteve a essência da ópera original, e o diretor cênico Menelick de Carvalho fez questão de que tudo fosse o mais próximo possível dela.

Apesar do cenário não mudar muito entre uma cena e outra, salvo alguns detalhes, é impressionante como a presença de cada personagem dava um tom diferente ao ambiente. O expansivo Dulcamara (Sávio Sperandio) arrancava gargalhadas do público em suas árias, enquanto o tímido Nemorino (Guilherme Moreira) fez o público suspirar com sua bela voz, um feito que lhe rendeu até fervorosos pedidos de bis (algo raro em uma ópera).

O espetáculo estava lotado e os ingressos foram esgotados pouco depois da abertura da venda de ingressos, que geralmente ocorre semanas antes da primeira récita. Talvez isso se deva aos preços populares do evento, ou talvez pelas palestras educacionais e interessantíssimas que ocorrem antes de cada apresentação (de forma gratuita). Mas o fato é que, para onde quer que se olhasse, via-se gente de todos os credos, alturas, e idades. Fica muito claro que o TMRJ quer abraçar todos os públicos e, à julgar pelos comentários entusiasmados dos críticos mirins, é possível dizer que esse objetivo está sendo realizado.

Uma estreia e tanto

Tanto o tenor Guilherme Moreira, quanto a soprano Carolina Morel estrearam nesta produção seus primeiros personagens principais. Carolina já havia cantado no coro do Municipal em outras produções, e Guilherme também já havia participado de outros projetos da casa mas, até então, nunca como protagonistas. Vendo suas performances de perto em ‘O Elixir do Amor‘, porém, é possível entender porquê acabam de receber tal oportunidade.

A maioria das árias (músicas) da obra em questão são focadas no bel canto, ou seja, na pureza, precisão, e agilidade das técnicas vocais de seus cantores. Isso significa que os instrumentos ficam um pouco em segundo plano e as vozes são o destaque, o que traz grande responsabilidade aos intérpretes.

Apesar de nos confidenciar em seu camarim que estava um pouco nervosa, Carolina tem um domínio impressionante da sua técnica vocal. Sua voz é límpida, clara, e ressoa com facilidade pelo teatro. Não nos surpreenderia vê-la, em breve, abrilhantando palcos de todo o mundo com o seu carisma e talento (quem sabe como Violetta de La Traviatta?). Guilherme também é um evento por sí só; o cantor é extremamente expressivo e parece envolver o público a cada nota que canta. Sua voz e sua performance vêm do coração, e ele parece totalmente entregue ao seu personagem, o que é incrível de se presenciar pessoalmente.

Mas de onde vem esse elixir?

O Elixir do Amor‘ é uma ópera dividida em dois atos, geralmente com um intervalo. Ela dura, aproximadamente, duas horas e cinco minutos, e foi composta por Donizetti em 1832, em parceria com Felice Romani. Enquanto o primeiro criou as músicas e poesias da obra, o segundo criou seu libreto, que nada mais é do que um pequeno livro com todas as direções do palco. Basicamente, ele guia a forma que a música e a poesia devem ser desenvolvidas pela produção do espetáculo.

Uma curiosidade é que a ópera foi criada em duas semanas, estreando no Teatro della Canobbiana em Milão, na Itália, no dia 12 de maio. O motivo para isso foi um pedido de urgência do gerente do teatro, já que ele havia contratado outro compositor originalmente, que não entregou a obra prometida.

Algumas das músicas de ‘O Elixir‘ são bastante conhecidas no meio da música erudita, mas ‘Una Furtiva Lacrima‘, cantada pelo personagem Nemorino próximo ao final do último ato, é uma das mais lembradas quando se fala na obra.

Apesar das apresentações de ‘O Elixir do Amor’ terem chegado ao fim, o Teatro Municipal do Rio de Janeiro tem várias atrações programadas para os próximos meses, tanto na ópera, com a produção Rusalka, quanto no balé e na música clássica. Confira o site da instituição e saiba mais.

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