Com Benicio del Toro, Mia Threapleton e Michael Cera, O Esquema Fenício mistura comédia, drama e estética impecável, provando que Wes Anderson ainda sabe divertir mesmo quando repete a própria fórmula.
Se você já viu algum filme do Wes Anderson, sabe o que esperar. E “O Esquema Fenício” entrega exatamente isso, talvez até mais do que o habitual. É simétrico, cheio de planos abertos filmados de cima, falas rápidas, atuações robóticas e um humor tão seco que parece que evaporou. Mas ainda assim, é impossível não se impressionar com o domínio que Anderson tem da linguagem. O filme é visualmente um banquete, com uma direção de arte de encher os olhos e uma trilha orquestrada por Alexandre Desplat que carrega a história nas costas, alternando entre a delicadeza e o caos orquestrado com precisão matemática.
Uma jornada excêntrica com um elenco afiado
A história mistura espionagem internacional com drama entre pai e filha, e sim, soa estranho porque é estranho mesmo. Mas é esse tipo de mistura improvável que o diretor faz como ninguém. Benicio del Toro interpreta um magnata em crise existencial com aquele olhar perdido que combina perfeitamente com o mundo do diretor. Mia Threapleton é uma grata surpresa, segurando a barra com um timing cômico impecável e uma expressão apática que diz muito mais do que aparenta. E Michael Cera, bom… o sotaque dele já vale o ingresso. Todos funcionam na cadência peculiar que Anderson exige, e o resultado é um conjunto de atuações que, mesmo afetadas, criam uma coerência interna muito própria.
Trama caótica, mas funcional à sua maneira
Confesso que a história em si parece mais um conjunto de esquetes do que um enredo propriamente dito. Tem conspiração global, igreja, política, capitalismo, paternidade, religião e um bocado de filosofia embutida. Mas tudo é conduzido com uma leveza que quase beira o descompromissado. É o tipo de filme onde as coisas simplesmente acontecem, e a graça está menos no que acontece e mais em como acontece. É a sobreposição de informação, estilo e subtexto, mas é justamente aí que ele acerta: nunca deixa de ser interessante.
Nem o melhor, nem o pior, mas definitivamente divertido
Talvez “O Esquema Fenício” não tenha a carga emocional de “Os Excêntricos Tenenbaums” ou o impacto visual de “O Grande Hotel Budapeste“, mas é provavelmente o filme mais divertido que Anderson fez nos últimos anos. Tem mais charme, mais humor e menos autocomplacência. Ao mesmo tempo, não tenta ser totalmente acessível, e nem deveria. Ele se mantém fiel ao seu universo, mas com um leve toque de humildade narrativa. Se você já não gosta do estilo do diretor, este não vai mudar sua opinião. Mas se você curte entrar nesse mundo tão específico e detalhista, há muito o que apreciar aqui.
Wes Anderson em sua forma mais confortável e ainda assim relevante
No fim das contas, o filme não tenta reinventar nada, mas também não cai na armadilha da autoparódia. Anderson parece confortável no que faz e isso transparece. Seu olhar sobre o mundo continua único, sua estética continua inconfundível, e sua sensibilidade, por mais esquisita que seja, ainda encontra espaço para momentos de beleza genuína. É como montar um quebra-cabeça com peças que já conhecemos, mas que ainda assim conseguem surpreender quando a imagem final se revela. E isso, por si só, já vale a sessão.