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“Ainda Temos O Amanhã” mostra que o passado ainda é presente

Marido e esposa disputaram a vaga de representante italiano no Oscar 2024. Nenhum dos dois ganhou. Mas Paola Cortellesi, diretora de “Ainda Temos O Amanhã” é casada com Riccardo Milani, diretor do longa “Obrigado, Rapazes“, o qual analisamos recentemente. Por aqui, os dois longas receberam notas iguais, mas por motivos bem diferentes.

Enquanto na vida real o casal teve uma disputa saudável e amigável, no longa de Paola, seu marido em cena é cruel, mesquinho, e parece querer disputar o tempo inteiro como a personagem dela deve se comportar.

O Passado É O Presente

Ainda Temos O Amanhã” fala sobre a guerra dos sexos, e mais do que isso: sobre o quão forte o machismo foi no passado e como ainda persiste nos tempos atuais. O preto e branco de uma Roma pós-guerra da década de 40, inacreditavelmente, exibe cenas que todas as mulheres do século XXI já passaram ou sabem de alguém que passou na vida.

Além de dirigir o filme, Paola também interpreta a personagem principal, Delia, que é uma mulher inteligente e trabalhadora. Ela “não para” e está sempre ocupada cuidando de seus filhos, de seu sogro ignorante, ou de seu marido Ivano (Valerio Mastandrea). Além de realizar diversos “bicos” para ajudar na renda da família como conserto de roupas, lavagem de lençóis e até mesmo conserto de guarda-chuvas.

Mesmo sendo a primeira obra dirigida por Cortellesi, “Ainda Temos O Amanhã” abriu o Festival de Cinema de Roma 2023, sendo aclamado pela crítica mundial. O longa começa forte, e se mantém no mesmo ritmo. Ele sustenta a narrativa a que se propõe desde o início, mesmo que Paola jogue alguns elementos para tentar distrair o espectador (que funcionam muito bem) e dar maior efeito ao final.

Paola Cortellesi nas gravações de “Ainda Temos O Amanhã” | Foto: Divulgação

A Narrativa

O filme é bem direto desde a primeira cena; nela, o espectador já compreende o enredo do filme e qual será seu foco. A cena inicial choca, revolta, mas faz uma contraposição inteligente entre a nostalgia romantizada por filmes sobre os anos 40 e 50, com a triste realidade dessa época. E pior, ele esfrega na cara do espectador as (muitas) similaridades com os dias atuais também.

A personagem Delia (Paola Cortellesi) não tem um minuto de paz, nem quando acaba de acordar. Apesar de estar em pleno controle de suas faculdades mentais, e não possuir nenhuma dificuldade de locomoção, Ivano (Valerio Mastandrea) se apoia na bengala de que, por ter participado de duas guerras, seu comportamento errático o tempo inteiro é justificável. Ele faz da vida de Delia um inferno todos os dias, cada vez por um motivo ainda mais absurdo. E algumas horas depois de seu descontrole emocional, age como se nada tivesse acontecido.

Marcella (Romana Vergano) também tem bastante conflitos com a mãe, por ela não reagir e nem tentar mudar sua situação de vida atual. O interessante, no entanto, é que a jovem é mais parecida com a mãe do que pensa.

Machismo e o Empoderamento Feminino

O filme retrata com maestria a diferença na criação de filhos homens e filhas mulheres. Erros que um rapaz comete são apenas isso, erros, enquanto qualquer falha demonstrada por uma filha mulher é imperdoável. Um filho pode escolher a esposa, mesmo que a família seja contra, a filha tem de se conformar com quem seu pai escolher para ela.

Até as gerações mais jovens do filme, que brigam ardentemente com seus pais e clamam por mudanças não conseguem perceber que, no fundo, são mais semelhantes do que diferentes de seus progenitores paternos, a começar pela misoginia com suas mães, noivas, e mulheres ao redor.

O filme retrata a misoginia de várias formas, como na diferença salarial, onde um aprendiz (homem), em seu 1º dia de trabalho, ganha mais do que Delia, que já trabalha consertando guarda-chuvas há 3 anos. E quando ela indaga seu empregador a respeito, a resposta é simples: mas você é mulher.

O filme também denuncia como, mesmo estando em uma época quase 1 século depois daquela em que o filme se passa, nossa sociedade ainda se assemelha em muitas coisas à mostrada no filme, a começar pelas opiniões das mulheres, que muitas vezes são ignoradas e têm seu lugar de fala reduzido.

Além do machismo estrutural, cultural, e psicológico, a película mostra isso sendo incorporado também na forma de violência física, e é aqui que o longa peca um pouco.

E aqui vem um alerta de spoiler e de gatilho, é só pular o parágrafo se não quiser ler:

Em uma cena específica, Delia e Ivano “dançam”. A “dança” representa Ivano agredindo Delia fisicamente.

Apesar da cena tentar manter o tom irônico que o filme utiliza para abordar toda a sua temática, a cena em questão é problemática pois beira à romantização da violência doméstica. Principalmente levando em consideração que a música de fundo canta sobre o amor.

A cena tenta retratar algo difícil de forma inovadora e mais leve, mas o tom é inadequado para o tipo de situação e ocasiona um desconforto no espectador não pela ação dos personagens em sí (como deveria), mas pela forma leviana que a situação se mostra.

O ideal seria focar, como a sequência faz mais tarde, nas vizinhas sentadas perto da casa de Delia, por exemplo. Que parecem não respirar pois sabem o que está acontecendo lá dentro, em um tipo de sororidade não dita.

Plot Twist

Algumas transições do filme são extremamente interessantes. Várias cenas começam dando algo a entender e terminam mostrando que a situação em questão é completamente diferente do que se pensou inicialmente.

A fotografia do longa também está de parabéns. Tanto pelo tom de preto e branco obtido que é muito agradável aos olhos, quanto pelo enquadramento de algumas cenas. Um exemplo disso é quando Delia decide mudar sua situação de vida e atrás dela está escrito num muro “Viva“.

O final é surpreendente, puro plot twist apesar do longa ter se mantido fiel à sua narrativa desde o início. A trilha sonora nessa parte é vital, especialmente as músicas modernas com batidas poderosas. Elas transmitem a ansiedade que Delia está sentindo, além de dar um toque de contemporaneidade ao longa; outro aceno às similaridades que ele possui com os tempos atuais.

Ainda Temos O Amanhã” é um dos 32 filmes que estão disponíveis para assistir tanto online quando presencialmente no Festival de Cinema Italiano. Recentemente, analisamos outros longas do festival como “Obrigado, Rapazes“, “A Sombra de Caravaggio“, “A Última Vez Que Fomos Crianças” e “A Última Noite de Amore“.

“Ainda Temos O Amanhã”

(Itália, 2023, 118 min.). Direção: Paola Cortellesi. Drama. Em exibição no Festival de Cinema Italiano, à partir da próxima quarta-feira (08/11).

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