Vista panorâmica da cidade e uma respirada profunda dão início ao longa “A Última Noite de Amore“. Então, várias outras respirações ocorrem, logo se transformando numa música completa, com direito a batidas, percussão, dentre outros elementos musicais. Na tela, letras vermelhas se sobrepõem às imagens aéreas e anunciam o nome do elenco. Dentre eles, Pierfrancesco Favino, renomado ator italiano e que inclusive já participou de longas hollywoodianos como As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian.
A introdução do filme já prenuncia que se trata de um thriller. Porém, o diferencial de “L’Ultima Notte Di Amore” é a tentativa de trazer também um contexto mais profundo ao longa, debatendo temas como a moralidade e a bússola comportamental que guia a cada um de nós.
Franco Amore (Pierfrancesco Favino) já tem um nome que propicia a esse tipo de debate, o jogo de palavras com seu nome induz o espectador a pensar que o personagem é honesto e amoroso, como de fato ele se apresenta no início do longa. Os colegas de trabalho, sua família, adoram Franco; e em sua festa surpresa de despedida (já que está se aposentando) muitos amigos o prestigiam.
Esta é, inclusive, a cena inicial do longa, a qual se retorna para minutos mais tarde quando um contexto prévio do filme é devidamente explicado. Amore se vangloria por estar finalizando “35 anos de serviço, como policial, sem nunca ter atirado em ninguém“. Mas conforme um flashback de passado recente começa a explicar como chegamos na “última noite” de Amore como policial, o espectador vê que nada é o que parece.
Filosofia em thriller?
É neste momento que o longa começa a trazer algumas questões filosóficas, principalmente a respeito do compasso moral de cada um e o que nos influencia na tomada de escolhas. Somos bons? Maus? Um pouco de cada coisa? Franco é apresentado como incorruptível no início, mas a cada nova oportunidade que encontra em sua frente, ele se torna mais humano e cada vez menos “perfeito”.
O filme parece querer debater quem é o responsável pelo comportamento de seu protagonista: Suas circunstâncias? A influência das pessoas ao seu redor? Sua própria essência? E é interessante acompanhar alguns dos raciocínios que o diretor e roteirista Di Stefano propõe a estas perguntas.
Outro fator cativante da película são os jogos de palavras que ela utiliza de forma inteligente. Além do nome do personagem principal, o próprio nome do filme permite várias interpretações diferentes. Inicialmente, ele dá a entender que é a última noite do personagem cumprindo plantão em seu trabalho, já que entregará o distintivo no dia seguinte, mas vários acontecimentos ao longo do filme, bem como o final, deixam essa questão em dúvida.
O Veredicto
Apesar destes fatores, o filme não tem muitos outros atrativos e fãs do gênero thriller podem se decepcionar um pouco. O filme não possui muitas cenas de ação e, apesar de Amore se encontrar em algumas situações à lá John Wick, grandes confrontos ou perseguições não ocorrem com muita frequência. A impressão que dá é a de que Amore está apenas tentando sobreviver àquela noite, de uma forma ou de outra.
A narrativa perde um pouco do ritmo quando se aproxima do final. Apesar da última cena merecer destaque, muitos pontos o roteiro não amarra da forma correta e várias pontas soltas permanecem quando os créditos começam a rolar. Além disso, nos 20 minutos finais do longa todos os problemas do protagonista são resolvidos, e os obstáculos que pareciam tão intransponíveis no início/meio, agora já não parecem mais ser tão assustadores assim, sendo resolvidos com uma certa pressa por parte do roteiro.
“A Última Noite de Amore” é um dos 32 filmes que estão disponíveis para assistir tanto online quando presencialmente no Festival de Cinema Italiano. Recentemente, analisamos outros longas do festival como “Ainda Temos O Amanhã“, “Obrigado, Rapazes“, “A Sombra de Caravaggio” e “A Última Vez Que Fomos Crianças“.
“A Última Noite de Amore”
(Itália, 2022, 124 min.). Direção: Andrea Di Stefano. Thriller. Em exibição no Festival de Cinema Italiano, que vai até 09/12.