A gravação de um filme começa, mas desde a primeira cena… tudo dá errado! Essa é a premissa de “Making Of“, o mais novo filme de Cédric Kahn. Desde a primeira claquete até a última, o “filme dentro do filme” vai gradualmente dando errado, para o desespero do personagem Simon (Denis Podalydès). Ele dirige um filme baseado em fatos reais, sobre funcionários de uma fábrica que são demitidos injustamente e que, por isso, decidem tomar o controle do local.
Apesar de se auto-denominar como um filme de drama, o longa possui vários momentos bem humorados, principalmente para quem trabalha na indústria criativa e sabe bem todos os choros, risos, improvisos e loucuras que acontecem nos bastidores de um trabalho bem executado. Estruturalmente falando, a narrativa lembra a cômica peça de teatro “The Play That Goes Wrong“. Nela, aos poucos e de forma bem natural, um projeto artístico vai desandando, para desespero de sua equipe aflita.
O filme mescla personagens caricatos, como Alain (Jonathan Cohen) que é o famoso “ator principal egocêntrico e machista”. Com personagens mais humanos e complexos, como Joseph (Stefan Crepon), um jovem cineasta que aceita dirigir o making of do filme, para finalmente estrear na indústria cinematográfica francesa.
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A Parte Técnica
As transições de “Making Of” são muito inteligentes. Elas mesclam cenas que estão acontecendo na gravação do filme com cenas dos “bastidores” do longa, sempre com o assunto de uma cena tendo a ver com o da próxima. Fica fácil do espectador acompanhar e não se confundir. Por exemplo, quando em uma cena dos bastidores a equipe ameaça não trabalhar mais por falta de pagamento, a cena seguinte é uma do “filme dentro do filme”, onde os trabalhadores da fábrica planejam ir ao ministério do trabalho para pedir por seus direitos.
As tomadas de longa distância, apesar de não muitas, também ajudam o espectador a se situar na linha temporal do filme. Algumas cenas em particular se destacam, como uma em que Joseph está confuso e o mundo gira rápido ao seu redor, intensificando suas emoções.
Talvez se o longa focasse um pouco mais na história de vida de seus personagens e trabalhasse com uma espécie de bastidor duplo, um do filme e outro da vida dos personagens, a película poderia ser ainda mais interessante e seu roteiro mais forte. Ele prende a atenção da forma atual, mas acaba não oferecendo nada extra, o que pode não cativar a atenção de um público mais amplo, que não seja fissurado por cinema.
Em alguns pontos, ele lembra o filme Babilônia (2022) de Damien Chazelle. Mas, ao contrário deste, não possui um fator de identificação muito forte, por essa falta de foco em seus personagens.
Em uma das cenas mais importantes de “Making Of“, Simon solta a emblemática frase: “Cinema é uma droga pesada“. Aí entendemos que o filme nunca quis, afinal, ser sobre seus personagens, e sim, sobre o amor de Cédric Kahn pela sétima arte.
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14º Festival Varilux de Cinema Francês
“Making Of” é um dos 19 filmes inéditos participantes do 14º Festival Varilux de Cinema Francês. Ele fica disponível em cinemas de todo o Brasil até 22/11. A Capy cobriu a noite de estreia do evento, disponível aqui no site e em nosso Instagram e TikTok.
Além disso, entrevistamos Emmanuelle Boudier (curadora do festival) e Julia de Nunez (estrela da série de sucesso “Brigitte Bardot”).
Disponibilizamos também resenhas de outros longas participantes do evento, como: “Maestro(s)“, “O Desafio de Marguerite“, “O Renascimento“, “Meu Novo Brinquedo“, “O Astronauta” e “O Livro da Discórdia“.
“Making Of”
(França, 2023, 119 min.). Direção: Cédric Kahn. Drama. Em exibição nos cinemas pelo Festival Varilux de Cinema Francês 2023.
