Novo longa da Paris Filmes, ‘Morando com o Crush’, traz rostos conhecidos pelo público jovem. Giulia Benite (‘Turma da Mônica’) e Vitor Figueiredo (‘O Outro Lado do Paraíso’) protagonizam a comédia romântica infanto-juvenil.
Imagine gostar muito de alguém e por muito tempo. Ter um verdadeiro crush nessa pessoa. E, quando você finalmente tem uma oportunidade de explorar seus sentimentos (que parecem ser recíprocos) uma bomba cai: vocês vão morar juntos porque seus pais estão namorando!
É mais ou menos essa a premissa de ‘Morando Com o Crush‘, como o nome já sugere. Apesar de ser uma temática já bastante explorada no cinema, na literatura, e na música, a atmosfera infanto-juvenil do longa tinha tudo para trazer o tema em uma roupagem diferente, mais leve, divertida, e inocente. Porém, alerta de spoiler: isso não aconteceu.
A tal inocência que poderia ser um fator positivo aqui acaba sendo outra coisa, uma espécie de desafio ao intelecto do jovem que esteja assistindo. E isso acontece em todos os setores do longa: nos diálogos engessados, nos efeitos especiais crus, nas narrações inconsistentes (que surgem e desaparecem do nada), na apressada continuação das cenas e, principalmente, no desenvolvimento do enredo.
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Poderia ter morado no coração, mas acabou pagando aluguel em outro lugar…
Um equívoco comum em vários filmes focados no público jovem é o de simplificar demais seus diálogos. Muitas vezes, tais roteiros incluem poucas ou nenhuma gíria que o demográfico realmente usa; eles também não estudam a forma que seu público-alvo se expressa. Isso gera diálogos desnutridos, engessados, e que pecam na qualidade. Longas de animação infantis como ‘A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas‘ (2021) e ‘A Caminho da Lua‘ (2020), por exemplo, nos mostram como dá para criar um conteúdo de qualidade e compreensível para todas as idades, mesmo que tenha um enfoque mais infantil.
‘Morando Com o Crush‘ poderia ter apostado mais na comédia e usado de seu elenco adulto para fazer isso acontecer, se fosse necessário. Inclusive, com um elenco estelar que conta com Marcos Pasquim e Juliana Alves, é no mínimo surpreendente que o grande destaque fique por conta de Ed Gama, o alívio cômico da trama.
Os diálogos não soarem muito naturais acaba impactando também na performance dos atores. Os cenários não são muito condizentes com a realidade de grande parcela da população brasileira, parecendo o tempo todo que a direção artística mirou em algum filme estadunidense e acertou em uma série do Disney Channel. Além disso, o enredo se perde. A relação entre os personagens Luana (Giulia Benite) e Hugo (Vitor Figueiredo), que deveria ser o tema central, pouco é explorada. São mínimas as interações significativas entre os protagonistas, onde eles pareçam estar se conhecendo melhor e desenvolvendo o carinho mútuo que sentem um pelo outro.
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O veredicto
O roteiro foca mais na relação do ‘casal’ principal com seus vizinhos, e no relacionamento de seus pais. Isso ocasiona uma sensação de correria: em uma cena ele é um crush, na seguinte já estão (literalmente) prestes a morar na mesma casa. Os cortes, as transições de cena, e a linha narrativa escolhida também contribuem para essa sensação de pressa: piscou o olho? Os personagens já estão em um outro patamar de interação.
Assim, a junção de todos esses fatores fazem com que ‘Morando Com o Crush‘ não prenda muito a atenção do espectador. Os figurinos e cenários lúdicos até poderiam ajudar nisso, se o filme deixasse claro desde o início que a ideia é essa: criar uma realidade paralela onde problemas do mundo real não existem.
Mas, como não é esse o caso, a responsabilidade de arrancar algumas risadas ficou para Cledir (Ed Gama), que realmente se provou um faz tudo de confiança.
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“Morando com o Crush”
(Brasil, 2024, 90 min). Direção: Hsu Chien. Comédia Romântica. Em exibição nos cinemas de todo o Brasil, a partir de 23 de maio.