O filme destaca-se pela qualidade visual e pela narrativa inteligente e humorada, equilibrando bem os elementos de comédia e drama.
Ao assistir ao trailer de “Fantasma”, a impressão inicial foi de familiaridade, como se a história lembrasse outra obra, talvez servindo de inspiração para o filme. No entanto, após conferir o longa, fui positivamente surpreendido por uma narrativa que desafia expectativas. O roteiro é digno em sua clareza e coesão, mantendo uma continuidade impecável ao longo da trama. Cada cena se desenrola de forma estruturada, garantindo que o espectador permaneça engajado do começo ao fim. O filme se destaca ao equilibrar humor e tensão de maneira eficaz, oferecendo uma combinação de comédia e ação que prende o público e o mantém imerso na história.
A comédia de roubo inspirada no “Ladrão Invisível”
A nova comédia chilena dirigida por Martín Duplaquet, “Fantasma”, é levemente inspirada na intrigante história de José Abello Gonzáles, um assaltante de bancos notório que, entre 2006 e 2012, realizou quatorze roubos antes de ser capturado. Gonzáles, longe de ser um criminoso comum, evitava a violência e não utilizava armas em seus crimes. Sua técnica particular consistia em se disfarçar de funcionário do banco, agindo de maneira tão discreta que escapava da polícia, ganhando o apelido de “O Fantasma“. A obra promete uma abordagem leve e bem-humorada desse curioso caso real, retratando criativamente como ele conseguia passar despercebido durante suas operações criminais.
A jornada de um anti-herói em meio à crise chilena
José (interpretado por Willy Semler) é um indivíduo solitário que, apesar de ter seguido todas as normas da vida, é considerado um fracassado. Abandonado pela esposa, traído por seu amigo de infância, desempregado e atolado em dívidas, o rapaz se encontra à beira do abismo. Quando acompanha uma amiga ao banco e testemunha a fragilidade de uma transação imobiliária, ele decide retornar às suas raízes criminosas. Dessa forma, ele integra a gangue de assaltos a bancos mais icônica da história do Chile. O filme captura um período marcado pelos movimentos sociais e pelo despertar da consciência cidadã, refletindo um momento de intensa transformação no país.
Entre crimes e conflitos
A qualidade visual é, sem dúvida, um dos pontos altos do filme. A atenção aos detalhes, especialmente quando cruciais para o avanço da narrativa, são perceptíveis e eficazes. O esquema de cores, com tons vibrantes que remetem à América Latina, cria um contraste interessante com as cenas mais sérias. Nesses momentos, as cores mais frias dominam a tela, e a transição entre essas paletas é feita naturalmente, sem que haja um choque visual. A iluminação bem dosada mantém a atmosfera do filme consistente do início ao fim, enquanto os poucos efeitos visuais presentes são executados com qualidade, evitando qualquer traço de amadorismo, mantendo a produção visualmente atraente e tecnicamente competente.
Narrativa inteligente e humorada
O diretor constrói a narrativa de maneira clara e eficiente, estabelecendo logo nos primeiros minutos o tom e a direção que a história seguirá. O longa entrega uma trama de assaltos a bancos que foge do convencional, temperada com uma boa dose de comédia, mas sem perder de vista o drama que motiva as ações dos personagens. A execução é bem orquestrada, trazendo reviravoltas envolventes e, em alguns momentos, concentrando-se mais na relação entre os personagens do que nas próprias ações criminosas.
Naturalidade e química
Apesar de alguns diálogos parecerem simples para aqueles que não apreciam o gênero, eles se encaixam perfeitamente na proposta leve e divertida do filme. Mesmo priorizando o humor, não cai na armadilha de entregar uma narrativa superficial ou forçada, mantendo um equilíbrio entre a diversão e a profundidade.
Aliás, é justamente essa relação entre os personagens que impulsiona o desenvolvimento da trama, criando um vínculo genuíno com o público. Os protagonistas, com suas personalidades divertidas e cativantes, despertam a empatia do espectador ao longo do filme. A naturalidade das atuações, aliada a uma entrega emocional bem dosada, faz com que os atores prendam a atenção, mantendo uma dinâmica leve e envolvente. A química existente entre os personagens se desenrola de maneira fluida e orgânica, sem precisar forçar conexões ou apelos emocionais exagerados, contribuindo para a autenticidade da narrativa.
Elenco estelar e roteiro cativante
Distribuído no Brasil pela , “Fantasma” reúne um elenco de peso, incluindo nomes como Willy Semler, Claudia di Girolamo, Elisa Zulueta, Daniel Muñoz, Nestor Cantillana, Solange Lackington, Bárbara Ruiz-Tagle, Darío Lopilato e Diego Ruiz. O longa se destaca por sua execução envolvente, elevando-se acima da simples história de assaltos a banco. Com um roteiro bem amarrado, visuais vibrantes e uma química evidente entre os personagens, o filme oferece uma experiência tanto divertida quanto reflexiva. Ao final, se consolida como uma obra sólida, que combina humor e emoção, sendo uma ótima opção nas salas de cinema.
