O filme explora o valor da vida por cores intensas e uma narrativa profunda, um tributo às pequenas coisas da vida
Após uma série de experimentações com curtas em inglês, Pedro Almodóvar finalmente apresenta ‘O Quarto ao Lado‘ (The Room Next Door), seu primeiro longa-metragem totalmente no idioma. Inspirado no romance “What Are You Going Through“, de Sigrid Nunez, o filme estreou carregando a marca registrada do diretor espanhol: cores vibrantes e uma trama complexa, cheia de momentos tocantes.
Amizade à prova das adversidades
Tilda Swinton interpreta Martha, uma mulher que enfrenta um câncer cervical avançado. Ingrid (Julianne Moore), uma amiga de longa data, se reconecta com ela, após saber de sua condição durante um evento. Almodóvar constrói o roteiro com uma delicadeza impressionante ao abordar os desafios da doença, sem jamais cair no melodrama exagerado. A química entre Swinton e Moore é evidente, sustentando o drama com um equilíbrio de ternura e força.
Simbolismo das escolhas diante da morte
O longa trata, acima de tudo, da escolha de viver plenamente, mesmo diante de uma sentença de morte. O diretor insere personagens como o de John Turturro, que apresenta visões apocalípticas sobre o futuro do planeta, reforçando o tom reflexivo do filme. A decisão de Martha de não passar seus últimos dias em casa é um dos muitos gestos simbólicos que fazem do longa uma jornada de aceitação.
Estética inconfundível
Visualmente, o filme é um espetáculo. Cada cena é uma experiência visual, com a paleta de cores característica de Almodóvar pintando a tela e intensificando as emoções. A escolha do cenário — uma casa de férias luxuosa onde ambas compartilham seus momentos finais — cria um contraste impactante entre a beleza da vida e a iminência da morte. A luz do sol, a neve fora de época, e a presença quase espectral de Martha contribuem para um clima sereno, mas também inquietante. Almodóvar introduz um dilema moral no segundo ato que intensifica a tensão e redefine o rumo da narrativa. A dúvida sobre essas escolhas paira no ar, mantendo o público preso à história e à espera do desfecho. O jogo de luz e sombra, tanto literal quanto figurativo, contribui para essa sensação de incerteza e peso emocional.
O drama elevado
Julianne Moore e Tilda Swinton entregam atuações marcantes, trazendo autenticidade e profundidade para seus papéis. Moore, em especial, brilha ao lidar com a complexidade emocional de sua personagem, que luta com a culpa e a aceitação. Swinton, por outro lado, oferece uma interpretação contida e dolorosa, que dá voz ao sofrimento silencioso de sua personagem.
Mortalidade como tema central
“O Quarto ao Lado” se aprofunda na temática da mortalidade, algo que o diretor explora em seus últimos filmes. Aqui, o ele parece mais consciente do inevitável fim, fazendo com que cada cena carregue um sentido de urgência e introspecção. O filme é um tributo à vida e às pequenas coisas que a tornam significativa, mesmo quando a morte se aproxima.