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“A Sombra de Caravaggio” usa tenebrismo em cinebiografia do pintor

Caravaggio foi um pintor muito conhecido pelo uso de luz e cor em primeiro plano, que contrastavam com fundos escuros, técnica chamada de “tenebrismo“. Além disso, ele gostava de contrastar o claro e o escuro e foi o primeiro grande representante do estilo barroco na pintura. Logo, era de se esperar que um filme sobre sua vida utilizasse essa técnica tão marcante do artista. E isso aconteceu.

Pausar qualquer frame do filme é quase como ver um quadro do próprio Caravaggio em nossa frente. Isto é, as cores, os filtros de luz, bem como a iluminação utilizados mostram uma dualidade nos ambientes tal qual o pintor italiano prezava tanto por, e sempre fazia questão de retratar em suas obras.

Mas não é apenas este conceito de sombra que o longa visa explorar.

Além de fazer referência à principal característica técnica do pintor, a palavra também representa um período conturbado na vida do italiano. Mais precisamente, quando foi procurado pelo assassinato de um homem e precisou se refugiar em Nápoles. Inclusive, neste meio mais uma sombra se revela, o personagem Schatten (Louis Garrel).

De forma sorrateira, Schatten procura informações sobre a vida do pintor, bem como sobre seu caráter. O personagem tem sobre seus ombros a difícil tarefa de determinar para a Igreja Católica se Caravaggio é ou não um assassino. E bem a caráter, “Schatten” significa literalmente sombra em alemão. Além disso, ele é o único personagem inventado da trama.

Ainda se pode argumentar que o nome do longa faz uma breve referência poética ao final do filme.

Mas mesmo tendo um conceito forte e contando com grandes estrelas do cinema mundial em seu elenco, o longa começa de uma forma um pouco lenta, com uma briga que não convence, devido ao seu aspecto quase que amador. O filme demora um pouco para pegar velocidade e seu ápice ocorre após os primeiros 60 minutos iniciais.

Riccardo Scarmacio dá vida a um Caravaggio temperamental, confiante, e que vive sob suas próprias regras. Ele eterniza aqueles que são desprezados pela sociedade e os representa em igrejas, murais religiosos, e casas respeitáveis. Tanto Isabelle como Costanza Sforza Colonna, e Garrel como Schatten estão brilhantes em seus respectivos papéis. Os atores protagonizam uma das cenas mais eletrizantes do longa, na qual Constanza conta a Schatten um pouco mais sobre as origens de Caravaggio e a relação do artista com sua família.

Se tem ônus, tem bônus

A fim de evitar spoilers, não comentaremos muito sobre o final do longa, mas mesmo sendo completamente criado a partir da imaginação dos roteiristas Sandro Petraglia e Michele Placido, ele se torna interessante por toda a poesia que é apresentada tanto pelo narrador, quanto pelas imagens mostradas. O final parece interligado ao começo, já que a última cena é também a primeira. 

Entretanto, apesar da história de vida de Caravaggio ser um tema com grande potencial, tanto pelo temperamento forte do artista, quanto por não ser uma história tão conhecida pelo grande público, o roteiro de “A Sombra de Caravaggio” não consegue sustentar todo esse potencial em certos momentos. Ele perde a atenção do espectador quando se estende em longos diálogos que poderiam ser breves. Da mesma forma em que a narrativa demora em demasia para chegar a certos pontos, o que mais uma vez dificulta uma imersão completa no longa.

Ainda assim, o filme tem uma clara linha do tempo, mesmo que passado e presente se misturem ás vezes, o que é um diferencial e não confunde o espectador. Esta é uma obra cinematográfica que vai encantar quem admira as obras do pintor e, mais ainda, à quem não conhece sua história de vida e todas as revoluções históricas que ele proporcionou em seu meio, chegando ao topo de sua profissão mesmo tendo vindo de uma família humilde, proveniente de uma pequena aldeia chamada Caravaggio.

A Sombra de Caravaggio” é um dos 32 filmes que estão disponíveis para assistir tanto online quando presencialmente no Festival de Cinema Italiano. Recentemente, analisamos outros longas do festival como “Ainda Temos O Amanhã“, “Obrigado, Rapazes“, “A Última Noite de Amore” e “A Última Vez Que Fomos Crianças“.

“A Sombra de Caravaggio”

(Itália, 2022, 120 min.). Direção: Michele Placido. Drama. Em exibição no Festival de Cinema Italiano, que vai até 09/12.

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