Premiado em diversos festivais, o longa-metragem indiano estreia nesta quinta-feira, 12 de dezembro, com exibição exclusiva no CineSesc
“A Última Sessão” (Last Film Show), dirigido por Pan Nalin, é uma apaixonante celebração da magia do cinema, vista pelos olhos de um menino de nove anos, que descobre o poder transformador das histórias projetadas em uma tela. Situado na Índia dos anos 1990, o filme mistura nostalgia e crítica social em um drama que encanta e provoca reflexões.
A primeira fagulha de um sonho
A trama acompanha Samay, que, ao visitar um cinema pela primeira vez, é atraído pela experiência visual e emocional das imagens em movimento. Aquela sessão transforma completamente sua perspectiva de mundo, despertando nele um desejo quase obsessivo de entender e recriar a mágica da sétima arte. Contra a vontade do pai, que considera o sonho do filho algo impraticável, o menino começa a frequentar clandestinamente o cinema local, onde encontra no projecionista uma espécie de mentor.
O conflito central do filme é o embate entre a aspiração de Samay e as limitações impostas pela pobreza e pelo preconceito. Seu pai, cego pelas dificuldades da vida, ridiculariza o sonho do garoto, enquanto a tecnologia avança rapidamente, ameaçando o já frágil cinema local. Apesar disso, Samay continua determinado, inspirado por conselhos de figuras como o Sr. Dave, que o encoraja a “aprender inglês e deixar Chalala”.
Colisão entre fantasia e realidade
Nalin constrói com sensibilidade um cenário que alterna momentos de pura fantasia e a dura realidade da vida na periferia da Índia. O garoto pertence a uma família empobrecida, liderada por um pai que, apesar de sua linhagem brâmane, foi rebaixado economicamente e agora luta para sustentar a família vendendo chai na estação de trem. Esse pano de fundo é um elemento essencial, que expõe a resistência do protagonista em aceitar os limites impostos por sua classe social.
Uma ode visual ao cinema e à culinária
A cinematografia de Swapnil S. Sonawane é um espetáculo à parte, combinando composições ricas em cores e detalhes que relembram obras de mestres como Stanley Kubrick. As cenas que destacam a criação das refeições da mãe de Samay são visualmente fascinantes, transformando a comida em uma forma de arte. Essa atenção aos detalhes visuais reforça a beleza do filme, se conectando tematicamente ao amor pela criação, seja ela culinária ou cinematográfica.
Referências clássicas e influências cinematográficas
O longa ecoa o clássico Cinema Paradiso em sua narrativa, mas também presta homenagens a outros grandes cineastas, com cenas que recriam experimentos visuais de Kubrick em Uma Odisseia no Espaço. O filme é uma verdadeira carta de amor à arte de fazer filmes, mas também à força da imaginação infantil, mostrando Samay e seus amigos criando seus próprios projetores com sucata e explorando o mundo através das lentes de rolos de filme.
A beleza de um amadurecimento melancólico
No fundo, “A Última Sessão” é uma história de amadurecimento. É sobre como sonhos podem se moldar diante das adversidades, mas também sobre as perdas que acompanham o crescimento. O filme não se esquiva de mostrar os momentos dolorosos que acompanham a busca por um sonho, deixando claro que seguir em frente muitas vezes significa deixar algo para trás.
Ao mesmo tempo que é um tributo à força do cinema, também é um lembrete poderoso de como as histórias nos moldam. Nalin nos transporta de volta à infância, despertando no público uma sensação de redescoberta e amor pelo cinema. Através de Samay, somos convidados a reviver o encantamento de ver o mundo pela primeira vez com olhos cheios de sonhos. Um testamento à imaginação humana e à capacidade de sonhar, mesmo nas circunstâncias mais adversas.