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Análise: “Lamborghini – O Homem Por Trás da Lenda”


Frank Grillo como Ferruccio Lamborghini | Foto: Divulgação

Por: Andie Gonçalves

Hollywood sempre teve um carinho especial por biografias, mas no que tendiam a se concentrar nas turbulentas histórias de vida de atores e músicos, agora os grandes estúdios parecem estar dispostos a explorar outras tipos de histórias emblemáticas; de figuras dos mais diversos setores (vide: AIR: A História Por Trás do Logo). Talvez o sucesso de bilheteria de Le Mans ’66: O Duelo tenha inspirado a criação de mais longas automobilísticos, e seja por isso que hoje temos Ferrari, com lançamento previsto para Dezembro, e “Lamborghini – O Homem Por Trás da Lenda”, filme sobre o qual falaremos hoje.

Numa pacata cidade italiana na região da Bolonha, chamada Cento, um dos maiores visionários de todos os tempos tem origem: Ferruccio Lamborghini. Filho de fazendeiros e tendo um início de vida humilde, Ferruccio retorna a Cento após a Segunda Guerra Mundial, decidido a colocar em prática todo o conhecimento que adquiriu como mecânico no exército italiano. E é com essa narrativa que o filme começa.

Logo de cara, no entanto, o longa apresenta alguns problemas no roteiro. Frases clichê proferidas em sequência, pelos personagens principais, cessam qualquer expectativa do espectador em ter algo mais inovador no roteiro, algo que qualquer um que conhece um pouco da história real da vida de Ferruccio esperaria encontrar em sua biografia.

Romano Reggiani, que interpreta o jovem Ferruccio, parece dar o seu melhor ao tentar entregar a emoção requerida do personagem em certos momentos, porém, alguma coisa em seu método de atuação não parece encaixar bem nem com a emoção de certas cenas e nem com o personagem em si, dando a quem assiste uma sensação de desconexão com o personagem.

Os filtros e cores utilizados no longa, por outro lado, estão em bastante sintonia tanto com as necessidades de cada cena, bem como com a estética das décadas de 60 e 70, época em que o filme se passa. Muito azul, amarelo e vermelho, bem como cores derivadas, são utilizados. Tons alaranjados dominam em cenas intensas, e a sutileza com que a direção de arte do filme emprega essas escolhas estilísticas dão maior profundidade ao longa e guiam o público quando os diálogos não conseguem fazê-lo.

Foto: Divulgação


Ferruccio é mostrado inicialmente como um jovem sonhador, que deseja um futuro melhor para si e sua família. Suas ambições parecem tão nobres que ele é quase etéreo, intocável, perfeito. A dualidade e complexidade humana do personagem não são introduzidas aos poucos, e sim de uma vez, quando uma situação em particular lhe acontece e seu compasso moral é colocado em questão. Apesar do personagem afirmar “não se sentir bom o suficiente” e ser consolado por sua amada, Clelia  (Hannah van der Westhuysen), com o clássico “mas eu acredito em você“, a fala dele se mostra pouco convincente e até mesmo contraditória quando, poucos frames mais tarde, Ferruccio está arriscando todo o dinheiro de sua família em busca de suas ambições.

E falando na vida amorosa do personagem, por várias vezes nos perguntamos qual é o verdadeiro tema central do longa: sua vida pessoal ou a revolução que ele criou na indústria dos carros de luxo. A impressão que se dá é a de que vemos o personagem lidando com conflitos pessoais e amorosos na maior parte do tempo. Isso deixa pouco claro, para quem não conhece detalhes sobre a vida de Ferruccio fora das telonas, sua importância na revolução do automobilismo. O roteiro por vezes parece esquecer que, apesar de ser uma criatura emblemática, o grande público pode estar conhecendo o trabalho do personagem apenas agora, e portanto precisa de mais contexto em várias áreas.

Uma corrida entre Ferruccio e Enzo Ferrari se dá no presente, intercalada por flashbacks do passado de Lamborghini e sua trajetória até ali. Contudo, mais uma vez, nenhum contexto é oferecido sobre a ocasião da corrida, pouquíssimo se sabe sobre seu início/final e tampouco maiores detalhes são fornecidos no longa sobre a grande rivalidade entre Ferrari e Lamborghini, algo que na vida real foi uma questão amplamente discutida, porém mais uma vez: dentro do nicho dos entusiastas do ramo automobilístico.

Gabriel Byrne como Enzo Ferrari durante a corrida com Ferruccio Lamborghini | Foto: Divulgação

O ponto alto do filme é a interpretação viceral de Frank Grillo, que finalmente traz um caráter muito humano a Ferruccio. Infelizmente, o ator aparece apenas na metade do longa, mas sua interpretação e a de Mira Sorvino que interpreta Anita, segunda esposa de Ferruccio, abrilhantam a obra cinematográfica e entregam algumas de suas cenas mais fortes.

O final pega do espectador mais desatento ao mais observador completamente de surpresa, por vezes lembrando uma propaganda de carro, com direito a uma bela paisagem, olhar pensativo para o horizonte, e um personagem satisfeito por estar dirigindo tranquilamente rumo a ele. As cenas que levam a este desfecho poderiam ser melhor construídas e muitas pontas ainda ficam soltas. Algumas delas tentam ser respondidas em um combo “foto + frase” que é comum no encerramento de algumas biografias mas, ainda assim, o problema da falta de contextos é uma das poucas constâncias que o longa carrega até o seu final.

O filme não é ruim, mas é morno durante todos os seus 96 minutos de duração. Ele começa, se desenvolve, e termina morno, com o espectador agarrado à uma constante esperança de movimentação, de um clique, algo que sacuda a narrativa, mas que infelizmente nunca vem. O mais impressionante é que, tanto a vida de Ferruccio, quanto o livro que forneceu o material-base para a adaptação deste filme “Ferruccio Lamborghini, a história oficial“, escrito por seu filho, Tonino, ofereceram várias chances para o roteiro virar o volante e mudar esse percurso.


Uma oportunidade para mudança de rota, por exemplo, poderia ter ocorrido quando o longa menciona que funcionários da fábrica Lamborghini estão em greve. Com tantas possibilidades para se explorar esse tema e a forma como Ferruccio lidaria com ela, o roteirista e diretor Bobby Moresco (de “Crash: No Limite”) preferiu, em vez disso, transformá-la na possivelmente mais curta greve da história, a que durou apenas poucos segundos dentro de uma televisão.

Talvez o momento mais emocionante seja quando Ferruccio dá sua primeira coletiva de imprensa, na Feira Automotiva de Geneva, para apresentar o primeiro protótipo de carro de luxo da sua empresa e afirma “você compra uma Ferrari quando quer ser alguém, e compra um Lamborghini quando é alguém“.


“Lamborghini – O Homem Por Trás Da Lenda”

(Itália, 2022, 96 min.). Direção: Bobby Moresco. Biografia. Em exibição no canal Adrenalina Pura e em selecionadas plataformas de streaming a partir desta segunda (30/10).


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