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‘Jardim dos Desejos’ consegue florescer mesmo em um roteiro latossolo

Com distribuição da Pandora Filmes, ‘Jardim dos Desejos’ é o novo drama de Paul Schrader (roteirista dos sucessos ‘Taxi Driver’ e ‘Touro Indomável’). O longa teve sua première mundial no 79º Festival Internacional de Cinema de Veneza e chega hoje aos cinemas brasileiros.

Um elenco de peso que conta com nomes consagrados como Joel Edgerton (‘O Grande Gatsby‘), Sigourney Weaver (‘Avatar‘), além da talentosa Quintessa Swindell (‘Adão Negro‘). E, dirigindo e roteirizando esse trio poderoso: Paul Schrader. Cineasta conhecido por seus roteiros impactantes e contribuições de sucesso ao cinema, como no longa ‘Taxi Driver‘.

Como se uma equipe renomada dessas já não fosse o suficiente para intrigar até o cinéfilo mais desatento, o longa também chega com uma temática que promete dar o que falar. ‘Jardim dos Desejos‘ conta a história de Narvel Roth (Joel Edgerton), um jardineiro meticuloso que cuida com afinco dos Jardins Gracewood. Ele se dedica com empenho ao seu trabalho e em agradar sua empregadora, a rica viúva Sra. Haverhill (Sigourney Weaver). No entanto, a tranquilidade da vida de Narvel é abalada quando a Sra. Haverhill insiste que ele aceite sua problemática sobrinha-neta, Maya (Quintessa Swindell), como aprendiz. À medida que Narvel orienta Maya, segredos sombrios de seu passado violento emergem, ameaçando a vida de todos eles.

Uma trilogia que chega ao fim

Ainda que não intencionalmente, Paul Schrader iniciou em 2017 um ciclo de filmes que sempre mostram um protagonista masculino solitário, que se dedica profundamente ao seu trabalho, como tentativa de lutar contra um passado problemático. Essa premissa, somada à uma espécie de esperança tangível, une os longas ‘Fé Corrompida’ (2017), ‘O Contador de Cartas’ (2021), e agora, ‘Jardim dos Desejos‘.

Sobre este último, o diretor comentou em entrevistas como surgiu o conceito de seu personagem principal: “A jardinagem é uma metáfora particularmente rica, tanto positiva quanto negativamente. Comecei a perguntar a razão desse jardineiro ser tão recluso. A partir daí, pensei no Programa de Proteção a Testemunhas, e novamente você se pergunta, ‘por que ele está no programa?’ Isso evoluiu para a ideia de que ele era um matador de aluguel“.

Maya, Sra. Haverhill e Narvel jantam juntos. | Foto: Divulgação

Visitando o jardim

Logo no começo do longa, a impressão que fica é a de que o elenco é insubstituível. É simplesmente impossível imaginar outros atores interpretando os personagens principais da trama. E isso se deve tanto às atuações singulares que eles entregam, como à sintonia que o elenco tem entre sí. Talvez até, no ramo das performances, o destaque maior fique por conta de Quintessa Swindell, que entrega uma Maya complexa, confusa, e acima de tudo muito humana.

Porém, como a ela, é necessário bater palmas também para o belo trabalho que Joel e Sigourney conseguem entregar, mesmo em um roteiro que peca com eles. Latossolo é um solo fértil, porém não muito, que possui grande profundidade e capacidade de passagem de água. É mais ou menos assim que podemos classificar a narrativa de ‘Jardim dos Desejos‘: nela florescem algumas rosas, mas talvez com outros cuidados, pudesse ter dado origem à um roseiral inteiro.

É que, com quase duas horas de duração e um tema denso (ex-supremacista branco buscando a redenção), esperava-se que os personagens tivessem espaço o suficiente para se desenvolverem e amadurecerem. Contudo, infelizmente, isso não acontece aqui.

Narvel é um personagem problemático, e é justamente por todos os seus problemas que ele é a antítese de uma figura carismática. Para transformá-lo em uma espécie de anti-herói, seria necessário deixá-lo de molho por um tempo, explorar mais à fundo suas motivações. Não adianta vir só com um clichê clássico de “o amor cura tudo“. O público precisa de tempo: para absorver o que ele fez, o que tem feito, e o que pretende fazer.

Porém, mesmo em 111 minutos de filme, poucas mudanças significativas acontecem com o personagem. Também, pouquíssimo é explicado sobre sua psique. O roteiro não mostra, por exemplo, porquê ele abandonou sua gangue, porquê os denunciou, e como ficou sua família. Isso dificulta a vida do espectador na hora de formar uma opinião sobre o caráter de Narvel e, também, a tentar entender o lado dele. O que parcialmente salva o personagem é o trabalho primoroso de quem o interpreta.

Folhas secas e folhas que parecem verdes

As coisas ficam ainda mais estranhas quando a personagem Sra. Haverhill faz questão de destacar que Maya é parda, durante conversa com Narvel. E, também, quando em conversa futura ele não parece muito inclinado a remover suas tatuagens preconceituosas.

Além do desenvolvimento limitado dos personagens durante a narrativa, a trama chama mais a atenção por suas possibilidades do que pelo que, de fato, está acontecendo na tela. É a possibilidade dos desafetos de Maya se vingarem dela que deixam o espectador atento, é o receio que a ex-gangue de Narvel descubra sua nova identidade e faça mal aos personagens que instiga o receio, é a curiosidade sobre a reação da Sra. Haverhill quando descobrir certos rumos da trama que faz o público querer assistir até o fim. Só que o problema é que, quando alguma das possibilidades se torna realidade, geralmente ela tem uma entrega tão rápida que o espectador se vê vivendo o meme do “Expectativa vs. Realidade“.

O veredicto

O longa tem uma narrativa interessante, mas seu potencial fala mais alto do que a forma como o roteiro é desenvolvido de fato. A história de cada personagem poderia ter sido melhor destilada, ao invés de parecer que passaram por saltos temporais (piscou, algo que exigiria tempo em condições normais, já mudou).

Apesar desses fatores, ‘Jardim dos Desejos‘ consegue prender a atenção até o fim; em grande parte graças às inteligentes metáforas que faz com a jardinagem. Bem como, pela maestria da performance de seu elenco principal, que traz muita personalidade ao projeto.

“Jardim dos Desejos”

(Estados Unidos, 2022, 111 min). Direção: Paul Schrader. Drama/Suspense. Em exibição nos cinemas de todo o Brasil.

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