Obra experimental do cineasta português Edgar Pêra que dialoga com Fernando Pessoa estreia no Brasil no dia 5 de junho
Edgar Pêra é um dos cineastas mais criativos de Portugal, frequentemente descrito como um “anarquista da imagem” ou “o punk do cinema lusitano”. Sua obra ‘Não Sou Nada’ de 2023 é seu projeto mais ambicioso. Fugindo completamente das biografias tradicionais, o filme reproduz o universo mental de Fernando Pessoa e faz mais do que contar sobre sua vida.
O filme é uma experiência sensorial que cruza as fronteiras que existem entre cinema, poesia e música, mergulhando o espectador em um turbilhão de imagens, sons e reflexões sobre identidade, memória e a própria natureza da arte. Essa técnica cria uma atmosfera que reflete a complexidade da mente de Pessoa.

Um Filme-Catástrofe, Um Retrato do Vazio
A princípio, é bom frisar que essa é uma obra que precisa ser sentida, não apenas assistida. Além de Pessoa, o filme lida com heterônimos (múltiplas identidades fictícias) para aumentar a imersão em um thriller psicológico e enfatizar diferentes pontos de vista dentro do “Clube do Nada“.
Além disso, o filme opera em dois planos interligados: o mundo da redação (o “Clube do Nada“) e um hospício, sugerindo que tudo pode ser um reflexo da mente perturbada do protagonista. A narrativa não segue uma ordem de acontecimentos, incentivando o espectador a mergulhar no caos criativo e existencial do poeta.
A história se passa em uma redação onde Pessoa e seus heterônimos — todos vestidos de forma idêntica (terno preto, chapéu e bigode) — trabalham na 23ª edição da revista “Orpheu“. No entanto, o ambiente aparentemente normal se transforma quando Ofélia (Victoria Guerra), a única paixão conhecida do poeta, surge em cena. Sua presença desencadeia uma série de eventos misteriosos, incluindo assassinatos, em um clima que remete ao ‘noir clássico’, mas com toques de surrealismo e tensão psicológica.

Um Thriller Psicológico no Universo Poetista
Tendo estreado em janeiro de 2023, no Festival de Cinema de Roterdão, nos Países Baixos, logo de cara chamou a atenção por sua abordagem inovadora. Edgar Pêra constrói o roteiro quase por completo com versos de Pessoa, incluindo passagens em inglês — língua que o poeta também dominava. Os heterônimos, como Álvaro de Campos (Albano Jerônimo), ganham vida própria, disputando espaço e holofote em cena.
O filme recebeu diversos prêmios e nomeações, incluindo:
- Prémios Sophia: Vencedor de Melhor Ator (Miguel Borges) e Melhor Ator Secundário (Paulo Pires).
- CinEuphoria Awards: Nomeado para Melhor Filme e Melhor Ator (Miguel Borges e Albano Jerónimo).
- Golden Globes Portugal: Vencedor de Melhor Ator (Albano Jerónimo).
Edgar Pêra: O Alquimista do Cinema Português
Por fim, para quem busca uma viagem experimental e sensorial através da literatura e mente de um dos maiores escritores portugueses, ‘Não Sou Nada’ é a escolha perfeita. Estreia no Brasil via Fênix Filmes, no dia 5 de Junho.
Caso tenha interesse em demais obras do diretor, separamos uma lista de longas e curtas, para que conheçam mais de seu trabalho!