Hayao Miyazaki surpreende ao retornar de sua aposentadoria, anunciada em 2013 após o seu último filme, ‘Vidas ao Vento‘. Lançado no Japão em julho de 2023 e adaptação do livro de mesmo nome, escrito em 1937 pelo autor Genzaburo Yoshino, a história é, como nos filmes anteriores: Sobre o amadurecimento e crescimento espiritual de uma criança; desta vez, acompanhamos Mahito, uma criança vivendo turbulentos anos da Segunda Guerra e que tragicamente perde sua mãe em um incêndio. Sua jornada de autoconhecimento inicia quando seu pai casa-se novamente com uma adorável dona de um casarão, localizado no centro de uma floresta. Em sua nova casa, Mahito enfrenta diversas dificuldades para se encaixar na nova vida. Problemas com colegas de escola, mentiras e sonhos sobre sua falecida mãe. Entretanto, sua vida torna-se extraordinária ao conhecer uma Garça Real, que apresenta uma fuga da dura realidade e apresenta uma nova e fantástica realidade, onde o que é convencional no mundo ‘normal’ está longe do entendimento.
Uma Jornada de Poética e Filosófica
Repetindo a trama de um protagonista jovem encarando desafios de um mundo sobrenatural, habitado por criaturas estranhas, como em “A Viagem de Chihiro” (2001) e “Meu Amigo Totoro” (1988), Miyazaki nos mostra como crianças podem enfrentar os problemas da vida de modos incomuns, até mesmo alcançando emoções que ajudam adultos a superarem traumas. Mahito é um protagonista sem medo, determinado e lida com obstáculos com força. O livro no qual o filme se baseia é semi-autobiográfico, no qual o autor reflete sobre sua infância e como lidou com a morte, como amizades são fortes em processos de cura, e talvez, ele tenha conhecido uma Garça Real mágica!
Além das Expectativas: Ressignificando Símbolos
Nos filmes de Miyazaki e de seu Studio Ghibli, a presença da fantasia e de outros mundos convivendo junto ao nosso, expressa como devemos nos desligar do mundo e de suas fórmulas de como conviver e encarar adversidades da nossa vida. Mahito encontra respostas e pessoas inesperadas durante sua jornada, que o fazem entender que sua vida recomeçou e como ciclos se encerram e novos devem ser abraçados e vividos. Sua aventura inspiradora, apesar de cheia de perigos, sua complexidade (e confusões) nos permitem ver a intimidade e crescimento de Mahito em sua nova vida. Com simbolismos e metáforas, esta nova obra-prima da animação japonesa nos ensina como a vida é forjada de ciclos e do modo como os aceitamos, assim como Mahito tentou acertar a Garça Real com uma flecha e acabou sendo um de seus melhores amigos.
Curiosidades Sobre a Produção
O filme, além de seu enredo, impressiona por outras curiosidades. Creditado oficialmente como último filme de Hayao Miyazaki, sua produção teve início em 2016, e não houve divulgação de trailers, releases, imagens nem publicidades, além de ser a maior estreia do Studio Ghibli, atrás somente do icônico ‘Viagem de Chihiro‘.”
Conclusão
Em sua essência, “O Menino e a Garça” transcende as expectativas associadas ao nome, mergulhando em uma jornada poética e filosófica sobre perda e reconstrução. Miyazaki, fiel à sua tradição, tece uma trama repleta de simbolismos e nuances, onde cada detalhe é uma peça no intricado quebra-cabeça da vida. Ao ressignificar símbolos e explorar a relação entre Mahito e sua mãe, o filme toca em questões existenciais que ressoam além do público já familiarizado com o trabalho do autor. Embora a narrativa possa se distanciar das expectativas convencionais de uma típica fábula do Studio Ghibli, “O Menino e a Garça” destaca-se como uma peça crucial no legado do estúdio, marcando o retorno triunfante de Miyazaki e sua incansável busca por reinventar as fronteiras da animação.