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“Propriedade”: Uma Crítica Cinematográfica Intrigante e Profunda sobre Conflitos Sociais e Sobrevivência

Em 14 de dezembro, uma adição notável ao panorama cinematográfico nacional surge em nosso catálogo: o envolvente thriller pernambucano intitulado “Propriedade“, uma obra magistral sob a direção e roteiro de Daniel Bandeira.

A performance impecável de Malu Galli, no papel central de Teresa, uma mulher enfrentando o estresse pós-traumático após um sequestro, é digna de destaque. Teresa busca refúgio em uma vida reclusa, inicialmente atrás das paredes de sua cobertura e posteriormente confinada em seu veículo blindado para escapar de uma revolta dos trabalhadores da fazenda de sua família.


A cinematografia do filme é notável, colaborando com a narrativa visual de “Propriedade” e proporcionando uma experiência estética de poder incontestável. O contexto rural se transforma em um cenário de luta de classes, expandindo as fronteiras de “Casa Grande e Senzala”. A abordagem, porém, transcende a simplicidade, evitando o maniqueísmo.

O filme aborda de maneira impactante as disparidades e intolerâncias de classe no Brasil, com o medo atuando como combustível para a violência, filtrado através de uma lente política aguçada onde Daniel Bandeira habilmente coloca dois universos em conflito.

Detalhes significativos do filme são difíceis de discutir sem revelar spoilers, mas a cena que destaca uma revista de luxo coberta com sangue de um trabalhador evoca referências poéticas à guerra de classes apresentada no filme.


Zuleika Ferreira se destaca em sua atuação como Antônia, uma líder dos trabalhadores, com uma expressão facial que revela sofrimento prolongado. A transição da chegada à fazenda, com planos abertos exibindo a vastidão do terreno, contrasta com a claustrofobia do interior do carro, ambos contribuindo para o isolamento dos personagens.

A trama em si é imprevisível, desafiando constantemente as perspectivas do espectador. O filme proporciona reflexões sobre a presença cotidiana das disparidades sociais e seu impacto direto nos destinos de indivíduos obscurecidos pela sociedade. Mesmo filmado há alguns anos, “Propriedade” mantém uma relevância desconfortável, ilustrando como as pessoas podem ultrapassar as barreiras da civilização em situações extremas de sobrevivência.

Para além das discussões políticas sobre reforma agrária, direitos trabalhistas e luta de classes, o filme aborda esses temas de forma visceral e emocionante, através de um drama de perseguição que mantém a atenção ao longo de seus 100 minutos de duração.

A estreia de “Propriedade” está marcada também para a mostra Panorama, uma das seções mais prestigiadas do Festival de Berlim, que celebra sua 73ª edição em fevereiro deste ano. O filme já conquistou sucesso em diversos festivais no Brasil, sendo o filme de encerramento da 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes antes de sua exibição na Berlinale. Além disso, o longa recebeu reconhecimento, incluindo o prêmio de Melhor Montagem no Festival do Rio e os troféus de Melhor Direção, Melhor Figurino, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Desenho de Som no Festival de Aruanda.

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