Mesmo quem não assistiu a alguma das adaptações de “A Fantástica Fábrica de Chocolates“, com certeza ouviu falar em Willy Wonka. O excêntrico chocolatier criado pelo escritor Roald Dahl (conhecido também pela autoria de obras como “Matilda” e “O Bom Gigante Amigo“) captura a imaginação de crianças do mundo inteiro desde 1964.
Na data, Dahl lançou o livro “A Fantástica Fábrica de Chocolates“, que conta a história do carismático Charlie. Um menino pobre que tem a oportunidade de visitar a lendária fábrica de chocolates do Sr. Wonka graças a um bilhete dourado.
O livro teve duas adaptações cinematográficas. A primeira, protagonizada por Gene Wilder, foi sucesso com o público em 1971. Enquanto a segunda, que teve Johnny Depp no papel de Wonka e Freddie Highmore como Charlie, também foi bem recebida pela audiência e pela crítica especializada, mas em 2005.
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Analisando Wonka
Wonka, o novo filme do universo criado por Dahl, atua como um antecessor do livro e do filme de 1971, que inclusive contou com a participação do próprio escritor na adaptação do roteiro. Dirigido por Paul King, o longa de 2023 conta detalhes sobre as origens do personagem Willy Wonka. Ele explica alguns dos símbolos que Willy usa em “A Fantástica Fábrica de Chocolates” e como ele conheceu os Oompa Lompas.
Um dos primeiros pontos observados no longa são justamente as sutis referências feitas à “A Fantástica Fábrica“. Mais especificamente, à versão de Wonka interpretada por Gene Wilder. Tanto as falas, como os gestos, e algumas das expressões faciais de Chalamet, nos remetem à primeira adaptação do livro. Outros detalhes um pouco mais óbvios também fazem essa conexão e explicam alguns dos grandes mistérios da franquia, como porquê e de onde surgiu a ideia dos bilhetes dourados, a grafia do logotipo de Wonka, bem como alguns de seus elementos característicos, como a cartola e o casaco avermelhado.
Mas, ainda que estas homenagens existam, justamente para criar uma espécie de linha do tempo entre “A Fantástica Fábrica” e Wonka, o mais novo lançamento da Warner Bros. Pictures tem uma narrativa forte e independente por si só.
Mesmo que “A Fantástica Fábrica” não existisse, Wonka conseguiria se manter bem por sí só. Sua trilha sonora é cativante, seus personagens são muito bem desenvolvidos e com motivações claras, o elenco é de peso, e a própria história se desenrola muito bem. É verdade que ele demora um pouco para pegar ritmo no início, mas também quando consegue, não para mais.
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Os Personagens
O início do filme pode deixar o espectador um pouco em dúvida se este se trata de um filme infantil ou infanto-juvenil. Mas talvez essa seja justamente a meta de Wonka: não se definir, para não se limitar. O filme se propõe desde o início a ser completamente fora da realidade e, para aproveitá-lo em sua totalidade, é necessário abraçar sua magia de olhos fechados. Não dá para se perguntar muito sobre como uma fábrica portátil de chocolate cabe dentro de uma cartola, por exemplo…
É muito difícil prender a atenção de um espectador com um enredo que opta por dizer que no mundo real tudo é possível, mas Wonka consegue fazer isso muito bem. Apesar de vários “absurdos”, o longa mostra muitas situações e sentimentos reais que qualquer pessoa pode se identificar, como a perda de um ente muito querido, a busca por um sonho, ignorar as letras miúdas dos “Termos e Condições”…
Timothée Chalamet está brilhante no papel. Ele parece muito confortável no personagem e é um grande contraste em relação a trabalhos recentes do ator, como na pele de Paul Atreides, em Duna, onde ele se destaca justamente pela seriedade e drama do papel.
Jim Carter, que interpretou por muitos anos o estóico Sr. Carson na série de época Downton Abbey também mostra uma nova faceta mais divertida aqui. Calah Lane é outra atriz que merece destaque, com uma sutileza e verdade que impressionam, ao dar vida à personagem Noodle.
Apesar de ser um musical, fique tranquilo: nem tudo é música! Não, não acontecem flash mobs do nada a cada 2 segundos, nem todas as falas são basicamente cantadas… Pelo contrário! As músicas se intercalam em igual medida com os diálogos e surgem de uma forma natural, que quase beira à espontaneidade.
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E o veredito?
Wonka proporciona sorrisos, reflexões, viajadas na maionese e, até mesmo, algumas lágrimas. Quem acompanhou alguma (ou as duas!) versões de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” vai viajar no tempo e perceberá uma forte conexão entre os filmes. Quem não assistiu nenhum dos dois vai sair de Wonka querendo assistir.
Este é um dos poucos prólogos criado após o original que deu certo, justamente porque faz uma honrada reverência ao passado, mas sempre olhando para o futuro e refletindo os tempos atuais.

“Wonka”
(EUA, 2023, 113 min.). Direção: Paul King. Comédia/Aventura. Disponível nos cinemas de todo o Brasil.