Indicado na categoria “Melhor Documentário de Longa-Metragem” do Oscar 2024, “20 Dias em Mariupol” faz retrato visceral e honesto sobre a guerra na Ucrânia.
Uma das frases mais emblemáticas ditas em “20 Dias em Mariupol” é algo como “dói ver estas imagens, mas precisa doer“. Quem profere esta que é uma, dentre várias pérolas de sabedoria presentes no longa, é Mstyslav Chernov, diretor, roteirista, cinematografista e narrador do documentário.
O fotógrafo e fotojornalista da Associated Press (AP) já é bastante conhecido por suas coberturas jornalísticas e de imagem relacionadas aos conflitos na Ucrânia. Contudo, em “20 Dias em Mariupol” ele dá um passo a mais, unindo suas imagens impactantes em campo à uma espécie de diário pessoal. Por todo o longa, ele narra os acontecimentos e seus pensamentos e sentimentos, o que traz uma pitada ainda mais humana às cenas.
A estrutura cronológica do documentário é dividido por dias, o que é fácil de acompanhar. Ele mostra desde o dia 1 da ocupação russa no país, até sua chegada e subsequente ataque à região de Mariupol. Por ser uma cidade portuária, além de estar bastante próxima à fronteira da Rússia, Mariupol era estrategicamente mais suscetível a ataques; o longa aborda muito bem todo o contexto dessa invasão. Ele já começa com uma das cenas mais tensas do filme, onde o diretor e sua equipe ficam frente a frente com a tropa inimiga.
Mstyslav e sua equipe foram os únicos correspondentes da AP que não evacuaram a cidade após o início dos ataques russos. Mesmo correndo diversos riscos todos os dias, o documentário deixa evidente a enorme importância do trabalho de campo dessa equipe jornalística já que, se não estivessem lá, o mundo provavelmente não saberia dos ataques a civis e diversos bombardeios a hospitais e residências que estavam ocorrendo.
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Considerações Finais
O diretor do documentário sabe prender muito bem a atenção do espectador. Separando o conflito pelos dias em que sua equipe esteve no local, o espectador mergulha pouco a pouco no universo da guerra e, gradualmente, vai ficando mais envolvido (e desesperado) pela situação em que os habitantes de Mariupol se encontram, bem como por todas as vidas perdidas.
Apesar de poder ter sido um pouco melhor editado e finalizado, e também de deixar um pouco a desejar nas transições de cena, o longa acerta em vários outros pontos. A trilha sonora se faz indispensável e agrega maior profundidade ainda ao drama de toda a situação. Outro fator importante são as imagens: vicerais, raramente borradas, mas, cuidadosamente não-sensacionalistas.
“20 Dias em Mariupol” não é para os fracos de coração, é para quem está disposto a encarar a verdade nua e crua, e começar debates geopolíticos sobre guerras, não apenas a da Ucrânia. É um filme que fala sobre toda a dor e sofrimento que elas causam aos inocentes, que são sempre os que pagam a cara conta no final.
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“20 Dias em Mariupol”
(Ucrânia, 2023, 95 min). Direção: Mstyslav Chernov. Documentário. Em exibição nos cinemas de todo o Brasil, à partir de 07 de março.