Angelina Jolie brilha como a icônica diva da ópera, em um filme visualmente deslumbrante e emocionalmente profundo, dirigido por Pablo Larraín.
Maria Callas é o terceiro capítulo da trilogia de cinebiografias de Pablo Larraín, sucedendo os aclamados Jackie (2016) e Spencer (2021). Desta vez, a narrativa mergulha na vida da lendária soprano Maria Callas, com Angelina Jolie entregando uma interpretação magistral. O diretor e o roteirista Steven Knight escolhem focar na última semana de vida de Callas, explorando suas dores, arrependimentos e resiliência, enquanto ela enfrenta seus últimos dias em Paris.
A história de uma mulher imponente e complexa
A narrativa alterna entre o passado glorioso e o presente melancólico de Callas, explorando suas lutas internas e seu medo de ser esquecida. Jolie apresenta com sofisticação as múltiplas facetas da diva, revelando uma mulher que, por trás da figura lendária, luta com sua própria humanidade e vulnerabilidade.
Mesmo fragilizada, a artista é retratada como uma figura forte e decidida. Em uma cena marcante, ela ignora os alertas médicos e mantém seu comportamento extravagante, desafiando até as limitações físicas de sua equipe. Ela vive de acordo com suas próprias regras, recusando-se a abandonar os pequenos prazeres que mantêm viva sua essência artística.
Entre aplausos e reflexões íntimas
Apesar das advertências, Callas continua buscando aplausos e adoração, elementos vitais para alimentar sua alma. Em entrevistas concedidas a um jovem repórter (Kodi Smit-McPhee), ela revela seus pensamentos mais íntimos, enquanto o filme revisita os amores tumultuados de sua vida, incluindo o casamento com Giovanni Battista Meneghini e a relação conturbada com Aristóteles Onassis.
Nos momentos fora dos holofotes, Callas é apresentada como uma sombra de si mesma, vagando entre a grandiosidade de sua carreira e a solidão de sua vida pessoal. Larraín revela uma mulher dividida entre o peso de sua genialidade e a luta para preservar o que restava de sua alma artística.
A cinematografia de Edward Lachman é um espetáculo à parte, com tons de rosa delicados e cores vibrantes que refletem a opulência e a melancolia do universo de Callas. Os flashbacks operísticos, como a performance em Anna Bolena, são visualmente hipnotizantes, embora criem certa distância emocional entre o público e a protagonista.
Histórias que se conectam
O filme também reflete sobre o preço da fama e o vício nos holofotes. Angelina, assim como Callas, vive um retorno à proeminência após desafios pessoais, criando um paralelo simbólico entre atriz e personagem. Essa conexão insere camadas emocionais à narrativa, criando entre as duas, uma conexão além das telas.
Um dos pontos altos de Maria é a fusão impecável entre as vozes de Jolie e Callas. A transição quase imperceptível entre o material original e a atuação da atriz confere autenticidade às cenas musicais, enquanto o tom melancólico domina a narrativa, refletindo o estado emocional da protagonista.
Um retrato melancólico e poderoso
Apesar de seu ritmo lento e melancólico, a obra explora sentimentos universais, como perda, arrependimento e a busca por significado. O diretor opta por uma abordagem introspectiva, evitando o grandioso para se concentrar no que há de mais humano em Callas.
É um filme que exige paciência, mas recompensa com um retrato profundo e visualmente impressionante de uma mulher lendária. Pablo Larraín reafirma sua habilidade em explorar figuras femininas icônicas, oferecendo um filme que é simultaneamente encanta e comove.